Uma estrutura de madeira, espuma e TNT montada no meio do pátio é o suficiente para deixar três centenas de crianças extasiadas. São alunos do 1.º ao 5.º ano, que só precisam de alguns minutos depois que a peça começa para fixar sua atenção na trama que se desenrola no palco. Ao longo dos próximos 50 minutos, eles vão ouvir uma história divertida e, de lambuja, aprender a construir “um mundo para todo mundo”.
No palco, o menino Peter, de 10 anos, viaja entre planetas para cumprir a sua missão: construir um mundo “para todos”. Ao melhor estilo Dorothy, do Mágico de Oz, ele conta com a ajuda dos amigos para completar sua jornada. Oliver, o personagem cego, o ensina a olhar com o coração. O Rei Meritório, que não têm os dois braços, a “fazer”; o garoto surdo Giglio o ensina a ouvir; e Beni, que tem autismo, a pensar.
Na plateia, o silêncio é intercalado com risadas gerais e eventuais manifestações de um aluno do 2.º ano, autista, como Beni. Mas sua agitação em nenhum momento é motivo de gozo dos colegas ou preocupação dos professores. É que a Durival de Britto e Silva respeitar os alunos com deficiência já virou rotina. A escola municipal atende dentro da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, do Ministério da Educação (MEC), que prioriza a matrícula da estudantes com deficiência no ensino regular.
Entre 2008 e 2013, essa política já havia aumentado as matrículas destes alunos no ensino básico em 112% . A Durival de Britto, por exemplo, já atendeu autistas, cadeirantes, crianças com a síndrome de Kinsbourne (uma desordem neurológica rara, que provoca movimentos oculares arrítmicos e caóticos e irritabilidade) e até com a síndrome dos “ossos de vidro”. Este novo caráter inclusivo da escola é explicado aos pais, em reunião no início do ano. “A maior dificuldade de aceitação dos pais é com aqueles que têm transtorno de comportamento”, diz Anaí Rodrigues, diretora da Durival.
E as crianças? “São bem cooperativas, e o envolvimento delas é importante para quebrar os tabus”, conta a diretora. É aí que entra o teatro: para ensinar o respeito às diferenças já para os pequenos, antes que dê tempo de eles adquirirem preconceitos.
A dupla de atores Rafael Magaldi e Leandro Borgonha, da Ouroboros Produções, contou com o apoio da Universidade Livre para Eficiência Humana (Unilehu), instituição curitibana que trabalha com a inclusão no mercado. A petroleira ExxonMobil está patrocinando as 100 apresentações previstas para escolas municipais de Curitiba neste ano.