Escute o que eles têm a dizer
Se por um lado os pais não têm o direito de escolher pelos filhos, por outro, sua experiência não pode ser ignorada. Por isso, antes de brigar com a sua família, lembre-se daquela música: "você diz que seus pais não lhe entendem, mas você não entende seus pais". E ouça o que eles têm a dizer. "É importante levar em conta a opinião dos pais. Só que você não deve se sujeitar à vontade deles. Nessa fase você está começando a se soltar e não pode passar o resto da vida fazendo o que eles querem que você faça", diz Hugo Mendes de Oliveira, 16 anos.
Muitas vezes, o jeito é entrar num acordo. Daniel Khim Cho, 18 anos, sempre quis fazer Publicidade e Propaganda (PP), mas seu pai gostaria que ele estudasse Direito. Como o estudante não queria abrir mão, os dois fizeram um pacto. Daniel faria Direito à noite e PP de manhã. Mas ele não passou em Direito no vestibular tradicional da Universidade Federal do Paraná e a segunda opção consensual foi tentar Administração (ADM), também na UFPR, pelo Sisu.
Resultado: o estudante fará PP na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e ADM na Federal. Hugo sempre soube que queria trabalhar como ator. Desde a 4ª série ele participava de peças de teatro na escola e aos 12 anos iniciou um curso. "Com 15 anos, assistiu a um filme da década de 80 e fixou encantado. Fuçou na internet, conseguiu baixar o roteiro do filme, em inglês, e traduziu para o português. Depois adaptou o roteiro para teatro. Quando eu descobri, já estava selecionando atores", conta Maria Cristina Pires Mendes de Oliveira, mãe do estudante. "Naquele momento soube que não teria como segurar."
Mesmo apoiando o filho, ela não deixou de alertá-lo sobre as dificuldades financeiras da profissão. E recomendou que ele tocasse, paralelamente, uma segunda carreira. O estudante dá razão à mãe e diz que estuda algumas opções. "Escolhi minha profissão, mas não defini para que curso vou prestar vestibular. Penso em fazer um curso profissionalizante de teatro e prestar vestibular para Psicologia. Mas provavelmente vou tentar a graduação em Artes Cênicas", diz.
A convivência entre pais e filhos nem sempre é fácil, afinal, gerações diferentes normalmente não enxergam o mundo da mesma forma. Mas os conflitos podem se agravar quando o vestibular bate à porta, acompanhado da pressão pela escolha profissional. Há algumas situações bem comuns: pais que incentivam o filho a seguir o sonho que não puderam realizar, que desaprovam determinadas carreiras e desejam que o estudante toque o negócio ou a profissão da família.
"Os pais querem que o filho esteja bem colocado no mercado, porque sabem que não durarão para sempre Eles devem lembrar, entretanto, que quem vai viver as consequências dessa escolha daqui a 10, 15 anos é o filho. Uma pessoa frustrada, desmotivada, muitas vezes não consegue dar prosseguimento à carreira", afirma Selena Garcia Greca, psicóloga especialista em orientação profissional e desenvolvimento de carreira.
O psicólogo e conselheiro vocacional Flávio Pereira lembra o caso de um dentista que depois dos 30 anos de idade e de um investimento bastante alto para montar o consultório decidiu retomar o desejo de adolescente. "Ele sempre tinha sonhado em trabalhar engravatado, como gestor, mas o pai queria que fosse dentista", diz. Na adolescência, o universo parecia conspirar a favor da Odontologia. Quando passou no vestibular, o jovem foi premiado com um carro. O pai iniciou a compra dos instrumentos odontológicos logo no primeiro ano do curso. Também durante a universidade o jovem começou a namorar uma colega, que o incentivava a continuar os estudos. Além disso, o estudante tinha um vizinho aparentemente bem-sucedido que era dentista e havia comprado um carro de último modelo.
Tudo isso adiou, mas não impediu a mudança de carreira. Mesmo tomando outro rumo, o jovem encontrou uma maneira de aproveitar a formação universitária. "Hoje ele é gerente comercial de uma empresa que fabrica equipamentos odontológicos", conta Pereira.
Para Alcy Pacheco Alberge, orientadora educacional da sede Ahú do Colégio Dom Bosco, as novas gerações, em geral, lidam melhor com a pressão dos pais e conseguem se desvincular da interferência da família na hora de escolher a carreira. Ainda segundo ela, muitas vezes a atitude dos pais mostra que eles reprovam a profissão escolhida pelo filho, mesmo que isso não seja dito de forma explícita.
Dos 1.457 estudantes que responderam a uma pesquisa sobre escolha profissional realizada no ano passado pela Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática, 12,98% disseram que a opinião de seus pais tem grande influência em sua decisão. De acordo com o estudo, 41,21% levam em conta a posição dos pais, embora achem que não devam decidir de acordo com eles, e 7% têm a escolha influenciada pela opinião de amigos. A pesquisa foi feita pela internet e ouviu alunos de várias escolas do Brasil, da 7ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.
Ponderação
Embora os pais não devam determinar a profissão do filho, a relação do jovem com a família é fundamental no momento da escolha, afirma Alcy. "O que eu percebo é que os pais conversam muito pouco com filhos sobre as profissões. Uma das atividades que fazemos na orientação profissional é uma entrevista com os pais sobre como iniciaram carreira. Vemos que a maioria dos estudantes não tinha conversado com eles sobre isso", diz. Segundo ela, a família pode ajudar o jovem a buscar informações sobre as profissões em que ele tem interesse.
Eles desaprovamA pesquisa realizada pela Positivo Informática também procurou saber se existem profissões que não receberiam a aprovação dos pais. A área de Artes, incluindo Moda, Música, Cinema, Dança, Artes Cênicas e Fotografia, foi a mais citada. As engenharias quase não foram citadas.
Série
Esta é a segunda reportagem de uma série de três sobre escolha profissional. Na primeira mostramos quais são os fatores que os alunos levam em conta antes de optar por uma carreira. Na semana que vem saiba onde é possível buscar informações para ajudar na decisão.
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