Rixa
Esquentando a discussãoA existência de áreas de atuação em comum criou uma espécie de "disputa" entre engenheiros e arquitetos.
Veja o que um já disse do outro, dê risada e depois se esqueça de tudo. Afinal, um profissional complementa o trabalho do outro:
- Arquitetos dizem que edificações projetadas por engenheiros não têm atrativos e parecem "caixotes". Engenheiros reclamam que arquitetos "enfeitam demais" e tornam a obra muito cara.
- "Construa certo, contrate um arquiteto." O slogan, que virou até adesivo de carro, provocou a reação dos engenheiros. Eles deram o troco e criaram o seu: "Construa certo, contrate um engenheiro e gaste menos."
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Esse é o curso certo para mim?
Esse é o curso certo para mim?Segundo a professora Samantha Filipin Rovigatti, da Tuiuti, os dois termômetros do curso de Arquitetura são as disciplinas de Desenho Arquitetônico e Plástica (criação bidimensional e tridimensional). A partir delas, é possível perceber se o aluno tem mais afinidade com a arquitetura ou com a engenharia. "Desde o primeiro dia de aula os alunos têm essas disciplinas. Quando percebemos que o estudante cria aversão por uma ou outra, acendemos o sinal amarelo. A situação fica mais evidente quando verificamos que ele tem rendimento bom em matemática e física e baixo nessas disciplinas", diz.
No curso de Engenharia, de acordo com ela, quem tem afinidade com a arquitetura costuma gostar mais das disciplinas de desenho. O professor Rogério Francisco Puppi, da UTFPR, explica que o desenho a mão livre é uma habilidade importante para os arquitetos, enquanto na engenharia quase todas as representações são feitas com a ajuda de programas de computador.
A importância do desenho para os estudantes de Arquitetura fica clara logo no vestibular, quando as instituições de ensino normalmente exigem provas de habilidades específicas. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), os candidatos precisam desenhar objetos e cenas da vida cotidiana e representar espaços arquitetônicos e ambientes urbanos. A prova avalia escala e proporção, noções de perspectiva, qualidade do traço e domínio de técnicas de ilustração.
Embora a rixa histórica entre arquitetos e engenheiros civis já tenha virado piada e até adesivo de carro, professores dos dois cursos explicam que as profissões se complementam e são igualmente importantes em uma obra. Arquitetos e engenheiros podem trabalhar em muitas áreas, mas é na construção civil que eles normalmente atuam juntos. Em termos gerais, contrata-se um arquiteto para a elaboração da planta, que trará a distribuição dos espaços internos da construção, do entorno e da fachada. Cabe ao engenheiro dimensionar as vigas e colunas, calcular a distribuição das cargas e projetar as instalações hidráulicas.
"O arquiteto faz o planejamento da utilização do espaço de forma racional e se envolve com questões ligadas à estética, à arte. O engenheiro civil busca soluções técnicas para a implantação do projeto do arquiteto. Ele trata da execução do projeto arquitetônico e é responsável por projetos complementares [estrutural, hidráulico, entre outros]", explica o coordenador do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo (UP), Cláudio Krüger.
Em grandes obras, normalmente engenheiros e arquitetos trabalham em conjunto. Já nas pequenas os dois profissionais podem se responsabilizar por diversas atividades envolvidas na construção. "O engenheiro pode assinar um projeto arquitetônico, e muitas vezes ele assina. Da mesma forma, o arquiteto pode gerenciar uma obra, função que normalmente é do engenheiro. Vemos muitos arquitetos executando obras de sobrados, de dois pavimentos, que não são tão complicadas. Nesse caso, o profissional é responsável por tudo o que acontece na construção, da parte trabalhista à administrativa", afirma Samantha Filipin Rovigatti, coordenadora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Tecnologia em Design de Interiores da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).
Formado em Engenharia Civil há 25 anos pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Marco Aurélio Moro, 46 anos, sempre teve afinidade com a área de projetos arquitetônicos. Sócio de uma construtora, Moro conta que todas as obras que executava ele também projetava. Para se aperfeiçoar, o engenheiro começou o curso de Arquitetura na UTP e deve colar grau nos próximos dias. De acordo com ele, a formação do arquiteto é muito diferente da do engenheiro, e o ideal é que cada um trabalhe nas suas áreas específicas. "A qualidade do meu trabalho mudou bastante. Vejo projetos que fiz há cinco anos atrás e a diferença é gritante", diz.
O engenheiro lembra que hoje ainda há uma única entidade profissional que regula a atividade das duas carreiras, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea). No entanto, o Congresso Nacional aprovou no ano passado a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), medida que pode provocar uma separação maior entre as duas profissões. "Como eu exercia a função de arquiteto, me preparei para essa mudança", afirma.
Na universidade
Ainda que arquitetos e engenheiros tenham atribuições para projetar e construir, as graduações apresentam grades curriculares bem diferentes. Segundo a coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, Isabel Maria Melo Borba, a formação na área envolve tanto conhecimentos ligados à Engenharia Civil (cálculos e projetos estruturais, projetos elétricos de baixa voltagem e projetos hidráulicos) quanto disciplinas como Conforto Ambiental e História da Arte. A professora Samantha Rovigatti, da Tuiuti, explica que as disciplinas de cálculo não são tão aprofundadas quanto na engenharia e ajudam o profissional a verificar antecipadamente se o seu projeto é viável.
No curso de Engenharia Civil, por sua vez, os alunos contam com formação mais sólida em matemática e física. "O curso de Engenharia tem cinco áreas de formação: construção civil; estruturas; geotecnia (mecânica dos solos, rochas e fundações), hidráulica e saneamento; e transportes (formação para a construção de estradas, ferrovias, portos e aeroportos)", afirma o coordenador do curso de Engenharia Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Rogério Francisco Puppi. Os estudantes também têm aulas de desenho e projeto arquitetônicos, mas esses conteúdos são apenas complementares.
Quando as profissões se distanciam
Se o trabalho de engenheiros civis e arquitetos acaba se cruzando na construção civil, há áreas de atuação específicas de cada um desses profissionais. Arquitetos que desejam se afastar da engenharia, por exemplo, podem trabalhar com restauração, paisagismo ou design de interiores. "Temos algumas atribuições que são iguais. Mas o arquiteto tem uma formação completamente diferente. Uma das áreas específicas é o trabalho com patrimônio histórico. Somente arquitetos podem atuar com obras de restauro", afirma Eneida Kuchpil, coordenadora da Câmara de Arquitetura do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Paraná (Crea/PR).
Os engenheiros civis, por sua vez, podem atuar com a construção de pontes, viadutos e estradas, atribuições para as quais o arquiteto não tem formação. Segundo o professor Cláudio Krüger, da UP, a engenharia que apresenta campo de atuação mais diversificado é a civil. "Ela tem a área de saneamento, de transportes; é bem abrangente", afirma.
Para a professora de Arquitetura Samantha Filipin Rovigatti, da Tuiuti, logo no início do curso é possível verificar se o aluno se identifica mais com a Engenharia ou com a Arquitetura. Aluna do 10.º período do curso de Arquitetura na PUCPR, Janayna Olenick, 21 anos, diz que os estudantes normalmente começam a graduação já sabendo o que querem. "Quando comecei a pesquisar sobre a profissão, vi que a área do arquiteto é mais ligada à criação, de casas e praças ao plano diretor de uma cidade. Engenharia Civil é um curso mais técnico, com mais cálculo", diz.
Como há um rol grande de disciplinas específicas, nas duas graduações, a maioria dos coordenadores ouvidos pelo Vida Universitária diz que é difícil para o aluno fazer uma migração simples de um curso para outro. Por isso, o ideal é desfazer o engano logo no início. "Às vezes não completa nem um mês para o aluno perceber esse engano. Identificamos isso no início do curso e direcionamos rapidamente o aluno, para que ele não perca tempo", afirma Samantha.