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Mais Médicos

Dois anos a mais de curso e muito protesto

Estudante da Faculdade Evangélica, Larissa Santana afirma que a medida do governo é autoritária e coloca os médicos como vilões. | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Estudante da Faculdade Evangélica, Larissa Santana afirma que a medida do governo é autoritária e coloca os médicos como vilões. (Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo)

Em breve, os cursos de Medicina do país devem passar por uma reformulação curricular que tem sido alvo de intenso protesto por parte de estudantes e professores. Uma medida provisória (MP) editada pela presidente Dilma Rousseff – e que deve ser regulamentada pelo Conselho Nacional de Educação até o fim deste ano – estabelece que a duração dos cursos, atualmente de seis anos, passe para oito anos a partir de 2015. O objetivo, defende o governo, é evitar a especialização precoce dos recém-formados e fazer com que os estudantes tenham mais contato com a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em cidades pequenas onde faltam médicos.

O programa, batizado de Mais Médicos, prevê que nos dois anos a mais de graduação os estudantes continuariam vinculados à instituição de ensino, seriam supervisionados por um professor e receberiam bolsa entre R$ 2,9 mil e R$ 8 mil mensais. No 7.º ano (ou primeiro ano complementar), os jovens atuariam na rede de atenção básica e, no 8.º ano, na urgência e emergência.

Após esse período, os alunos seriam avaliados e receberiam o registro profissional. Conforme o projeto, os dois anos complementares, posteriormente, contariam para abater um ano de residência em especialidades básicas (medicina da família, obstetrícia ou ginecologia, por exemplo) ou um ano do mestrado.

Problema

Para estudantes das quatro instituições de ensino que oferecem o curso de Medicina em Curitiba – Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Positivo (UP), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e Faculdade Evangélica do Paraná (Fepar) –, a medida prejudica os alunos e não oferece uma solução real para o verdadeiro problema que acomete a área da saúde: a falta de investimento nos profissionais e nas condições materiais de trabalho. Na última terça-feira, no Centro de Curitiba, os futuros médicos se juntaram aos colegas já formados para pedir que a MP seja rechaçada pela população.

Quem já está na faculdade não terá de cursar os oito anos, pois a medida deve entrar em vigor em 2015, mas os jovens são unânimes em afirmar que o Mais Médicos é prejudicial ao ensino e ao exercício da profissão. Outras propostas também são combatidas, como a abertura de 11,4 mil vagas de graduação e o exercício da Medicina por médicos com diploma estrangeiro. Além disso, é criticada a falta de propostas para melhorar a infraestrutura de cursos já existentes, como hospitais-escola e mais professores para supervisionar os alunos durante o internato.

Alternativa

Concurso público e carreira semelhante à de juízes e promotores

Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Na opinião do estudante do 12.º período de Medicina na UFPR Marcelo Zerbini da Cruz (foto), a melhor estratégia de atrair recém-formados para o interior do país seria dar aos profissionais estabilidade na carreira e um plano de cargos e salários. "Não é uma questão de dinheiro. Ninguém está falando que quer ganhar mais. O que queremos é a valorização da categoria, é condição de trabalho. Ninguém consegue trabalhar bem sem recursos", diz Cruz, que defende um concurso para médicos semelhante ao realizado para juízes e promotores, em que o médico iniciaria sua carreira no interior e poderia, com o passar do tempo, avançar na carreira e escolher a cidade em que gostaria de trabalhar.

Supervisão de alunos ficaria comprometida

Entre os argumentos do Ministério da Saúde para estender a permanência dos estudantes de Medicina na graduação estão aumentar o contato dos mesmos com os pacientes do SUS, evitar a especialização precoce e mandá-los para trabalhar na rede pública de cidades do interior, fazendo com que conheçam uma realidade diferente da de grandes cidades.

Tal estratégia, na opinião do coordenador do curso na Faculdade Evangélica, Constantino Miguel Neto, é inviável. "Além de antidemocrático, por obrigar a pessoa a ir para onde o governo escolher, tem a questão prática: como vou supervisionar um estudante do 7.º ou 8.º ano que está atuando no interior do Paraná ou na Região Norte do país?", questiona.

O coordenador do curso na UFPR, Edison Tizzot, afirma que o corpo docente da universidade não possui condições de fazer essa supervisão a distância, pois isso comprometeria a formação das turmas dos outros anos. Além disso, ele diz que não adianta mandar um estudante para o interior sem condições mínimas de trabalho, ainda mais um profissional com pouca experiência.

"O médico vai para o interior levando na mala o estetoscópio e o seu conhecimento, mas ele não leva junto o corpo clínico, os equipamentos, os remédios. Isso é obrigação do governo. Mas ele [governo] coloca o médico na linha de frente sem qualquer retaguarda. Acha que o médico é um super-homem", critica Tizzot.

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