"Quem sai da faculdade não está tão preparado e vai em busca de pós ou MBA. Mas isso não surte tanto efeito, pois não há troca de experiência. Como ele vai sentar e conversar com diretor-presidente de empresa se não é nem analista?"
Carlos Contar, diretor regional da consultoria Business Partners.
"Não é a faculdade que deve ensinar a prática. Os estudantes querem mais prática porque ela é mais gostosinha. Mas estudar e aprender dá muito trabalho. Se não tiver conhecimento, a prática não faz muito sentido."
Antonio Raimundo dos Santos, diretor de Educação do Isae/FGV.
Formação Aluno inseguro deve investir no aprendizado para estar preparado
Antes de estar formada em Jornalismo, a estudante do MBA em Marketing do Isae/FGV Priscila da Costa, 29 anos, foi contratada como analista de comunicação por uma grande indústria. Mesmo sem o diploma, ela teve a chance por causa dos estágios e da experiência que tinha em atendimento ao consumidor, call center e CRM (Customer Relationship Management).
Mesmo com a boa colocação, ela continuou investindo nos estudos. "O MBA me oferece mesclar, em sala de aula, conhecimento teórico e network com grandes profissionais da área do marketing. Assim aprendo com suas experiências e tenho a possibilidade de entrar em grandes empresas", conta.
Priscila também faz parte de um programa da instituição, chamado Perspectivação, composto por 15 atividades opcionais. Fazem parte do projeto aulas de coaching, plano de desenvolvimento pessoal e um módulo sobre comunidade e aprendizagem, no qual os participantes conhecem os pilares da educação definidos pela Unesco (conhecer, fazer, conviver, ser, transformar-se e transformar a sociedade).
"Mesmo com os melhores professores, aprender é com o aluno. Ele precisa turbinar esse aprendizado. Se ele sai da graduação com pouco domínio na própria área, queremos que ele desenvolva conhecimento corporativo, crie autonomia intelectual e aprenda a pensar por si", diz o diretor de Educação, Antonio Raimundo dos Santos, que considera a iniciativa um "seguro-educação". (AC)
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Depois de pelo menos quatro anos de faculdade, nada como receber o diploma, jogar o capelo para o alto e assumir um posto de trabalho desafiante e bem remunerado naquela empresa que está na lista das melhores para se trabalhar. Parece o roteiro perfeito, mas não passa de um sonho para a maioria dos recém-formados. Insatisfeitas com a capacitação que os estudantes receberam na universidade, quase metade das empresas (48%) não preenchem as vagas com iniciantes no Brasil.
Do outro lado, a resposta não é muito diferente: apenas 45% dos universitários acreditam estar bem preparados para o mercado. Os dados são do estudo "Educação para o trabalho: desenhando um sistema que funcione", feito pela consultoria multinacional McKinsey & Company e divulgado pela Confederação Nacional da Indústria e pelo movimento Todos pela Educação.
Mesmo quando se consegue o emprego, a história nem sempre termina bem para os graduados. De acordo com a professora Dâmaris Cristo, psicóloga e coaching da Central de Carreiras da Universidade Positivo, o aluno ou recém-formado é contratado por suas aptidões técnicas e demitido por apresentar comportamentos inadequados. "É comum ouvir gestores reclamando da falta de comprometimento dos mais jovens, indicando que há certa insubordinação e pouco empenho em atingir resultados."
As mudanças no mundo corporativo também influenciam essas relações. Uma pessoa considerada bem preparada há 20 anos precisaria de mais habilidades para ter o mesmo reconhecimento hoje, lembra Antonio Raimundo dos Santos, diretor de Educação do Isae/FGV. "Antes, você fazia um milhão de vezes a mesma coisa e aprendia. Hoje, você faz um milhão de coisas de uma vez só e sabe ou não sabe. Não dá tempo de aprender na prática", afirma.
Desafios
Entre as conclusões do relatório estão três grandes desafios para reverter o quadro: a melhora do ensino nas universidades, a criação de mais oportunidades para a formação prática dos estudantes e investimento em treinamento dos funcionários por parte das empresas. "Temos vários casos de empresas que querem jovens com potencial, entrevistam muitos candidatos, mas acabam partindo para um profissional sênior. Elas pagam 40% a mais porque escolhem alguém que vai dar um retorno mais rápido", resume Carlos Contar, diretor regional da consultoria Business Partners.
Em busca de experiência desde o começo da facul
Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Como não conseguiu aprovação em uma universidade pública, Renan Fossatti Pinto (foto), 23 anos, se matriculou em Administração na Universidade Positivo (UP). Para que os pais não arcassem sozinhos com a mensalidade, partiu em busca de um emprego. Começou ajudando na empresa de um amigo. "Ele podia me pagar R$ 100. A grana que eu recebia dava para minha mãe. Um tempo depois acabei sendo inspetor da pós-graduação na UP", conta.
Na sequência, Renan foi indicado para um estágio na Renault. Ficou lá até o 4º ano, quando foi trabalhar em uma empresa de recrutamento de executivos. As experiências prévias como estagiário foram determinantes para a conquista do emprego. "As empresas querem alguém que já assuma responsabilidades. Por isso, ao entrar na faculdade, a pessoa não pode escolher muito. Se ela quer ir para o mercado de trabalho, tem de ter experiência no currículo", conta o estudante, que já terminou uma especialização e deve seguir para um mestrado no ano que vem.
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