Menos de um ano após a última greve de professores das universidades federais, sindicatos e associações de docentes voltam a discutir a articulação de uma nova paralisação para esta semana. Embora o ato seja uma reação legítima ao não cumprimento pelo governo federal do acordo firmado em 2011, o indicativo para que a greve se desencadeie em todo o país na próxima quinta-feira deixa estudantes apreensivos com um movimento prolongado e divide as opiniões de professores.
No ano passado, a greve nacional dos docentes durou 14 dias e suas consequências foram intensificadas pelo movimento dos servidores, que impediu a realização de matrículas. O impasse levou a Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a cancelar o calendário acadêmico, dificultando até a ação dos professores dispostos a prosseguirem com as aulas.
A greve que deve iniciar nesta semana é justificada pela categoria como uma resposta à intransigência do Ministério da Educação (MEC). Segundo a Associação de Professores da UFPR (Apufpr), o governo não cumpriu vários pontos do acordo que deu fim à última greve, em especial o reajuste salarial de 4% e a elaboração de um projeto para a reestruturação da carreira docente. "O governo cancelou todas as reuniões de fevereiro, não propôs reunião alguma para março e disse que só aceitaria voltar a discutir conosco em julho", afirma o presidente da Apufpr, Luís Allan Künzle, em vídeo divulgado pela associação.
Se a adesão à greve for geral, no Paraná serão afetadas as aulas na UFPR, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Hoje, professores da UFPR se reúnem no câmpus Botânico para oficializar a deflagração da greve. Procurada para comentar as alegações da Apufpr, a Secretaria de Ensino Superior do MEC não retornou às tentativas de contato da reportagem.
Distante do impasse vivido nas universidades federais, mas com experiência em paralisações recentes, o professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa Marcelo Engel Bronosky lembra que a ação grevista não é um gesto de primeira instância e só é deflagrada quando o desacordo chega a extremos. "É uma atitude que só se toma quando todos os outros caminhos foram esgotados. É decorrência de uma omissão e nem sempre a sociedade compreende isso."
Opiniões divididas
A posição tomada pelas entidades representativas, no entanto, nem sempre reflete a opinião de todos os professores. "Essa movimentação é prematura porque já passamos por uma greve no ano passado e houve um grande prejuízo à qualidade das aulas", diz o professor de Direito da UFPR Célio Waldraff. Para ele, as tentativas de reposição de aula raramente são eficazes.
O coordenador do curso de Engenharia Elétrica da UFPR, Ewaldo Mehl, critica a intransigência do governo, mas lamenta a possibilidade de uma nova paralisação. "Cada professor toma sua própria decisão, mas uma greve agora trará um prejuízo muito grande", diz. No curso de Ciências Sociais, a tendência é de que todos os professores se juntem ao movimento.
Problema históricoFalta de compromisso do governo foi o estopim para nova paralisação
Um histórico de greves marca a trajetória dos professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 1980, quando foi deflagrada a primeira grande manifestação nacional da categoria. No decorrer dos anos, a exigência por melhores salários fez parte das reivindicações na maioria dos episódios. Isso não chega a ser diferente neste ano. No entanto, a falta de compromisso do governo federal com os professores foi o estopim para que uma nova mobilização fosse planejada.
Sem cumprir vários pontos de um acordo firmado para encerrar a greve em 2011 entre eles o reajuste salarial de 4% e prorrogando a discussão com os professores para o segundo semestre, conforme a Associação de Professores da UFPR (Apufpr), o governo federal abriu brecha para uma nova paralisação que coloca em risco o calendário acadêmico. "Existe um desrespeito com o funcionalismo público. O governo não cumpre com o prometido e não quer conversar com a gente", reclama a professora aposentada do Setor de Ciências Sociais da UFPR Milena Martinez, que participou da maior parte dos movimentos grevistas da categoria.
Marcantes
Entre as greves mais marcantes estão a de 1984 ano em que o movimento foi envolvido pela efervescência política da época, como a luta pelas Diretas Já , a de 1998 em que professores chegaram a fazer greve de fome durante 12 dias e a de 2001 a paralisação mais longa, com 108 dias de duração (leia mais sobre as greves históricas nesta página). "Com a cultura das privatizações, a educação nessa época [2001] foi considerada serviço; não um direito. O governo se eximiu da responsabilidade e deixou de investir na universidade pública, o que ocasionou a precarização das instituições e do nosso trabalho", lembra Milena. (KB)
Como a greve dos professores afetará a sua rotina? Você já enfrentou uma greve? Como foi a reposição das aulas?