Parcerias bem feitas entre o mundo acadêmico e o meio corporativo são capazes de suprir necessidades da sociedade e são uma característica marcante das nações desenvolvidas. No Brasil, de modo geral, essa relação ainda precisa amadurecer para que traga mais benefícios para os dois lados e afete diretamente no futuro profissional dos universitários e na transformação do país.
Enquanto as universidades têm de conhecer as práticas empresariais para capacitar seus alunos, o mercado de trabalho depende do conhecimento da academia e da formação de bons profissionais para alavancar os negócios. A falta de mão de obra capacitada é, inclusive, apontada pelo empresariado brasileiro como um dos fatores que impede o aumento da produtividade. "O Brasil está aprendendo a fazer isso [parcerias], está amadurecendo. Percebemos um aumento de demanda nos últimos três anos", diz o coordenador de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia da Agência PUCPR, Eduardo Agustinho, responsável pelo relacionamento com empresas.
A inovação ou a transformação do conhecimento em negócios é apontada pelo gestor do Senai-PR, Filipe Cassapo, como o grande desafio do país. "A produção científica brasileira representa 3% do total no mundo. Ela vai muito bem, mas é preciso fazer com que isso vire desenvolvimento econômico e social", conta. A aproximação dos centros de pesquisa com a iniciativa privada é um caminho para dar aplicabilidade às pesquisas e torná-las "relevantes".
Na UTFPR, esse processo ocorre em via de mão dupla: as parcerias nascem da prospecção de docentes e da procura das empresas. Atualmente, são 118 projetos tecnológicos nos 12 câmpus. Entre consultorias, termos de cooperação e pesquisas colaborativas, o número de trabalhos conjuntos chegou a 11.986 em 2013. "Damos muita importância para essas parceiras, mas o interesse institucional é prioridade. Queremos estar próximos e trabalhamos no ganha-ganha", explica o pró-reitor adjunto de Relações Empresariais e Comunitárias, Carlos Cziulik.
Apesar das parcerias serem importantes para dividir as despesas das caras pesquisas de desenvolvimento, "muitos ainda veem como custo, e não como investimento", afirma Cziulik. Um dos maiores desafios dessa relação é equilibrar as diferentes realidades. "São mundos diferentes. O nosso papel [da Agência PUCPR] é adaptar o tempo para apresentar resultados", conta Agustinho, lembrando do dinamismo exigido pelas corporações. Apesar de não ser priorizado o ganho econômico com as parcerias, investimentos privados em pesquisas podem se tornar uma importante fonte de renda para as universidades, hoje baseada nas mensalidades.
Investimento
Estrutura de câmpus ajuda no recrutamento de parceiros
Além da oportunidade de qualificar o aluno, aproximando-o do mercado e de pesquisas de alto valor, a infraestrutura das universidades também pode ser beneficiada pelas parcerias.
Em busca de desenvolver novas tecnologias e trazer empresas para perto do ambiente acadêmico, a PUCPR construiu há cinco anos o Tecnoparque. O espaço de 10 mil metros quadrados, vizinho da universidade, em Curitiba, abriga hoje oito empresas, como as multinacionais Nokia e Siemens e a curitibana Sofhar Gestão & Tecnologia, especializada em soluções de tecnologia da informação e comunicação.
A Sofhar mudou para o Tecnoparque há três anos, resultado de um redirecionamento de atuação que a uniu com o meio acadêmico. "Não é só uma mudança física. O objetivo de investir em conhecimento e inovação nos alinhou com o projeto da universidade", diz o diretor da empresa, Wilmar Prochmann. Alunos e professores de diferentes cursos e disciplinas participam do dia-a-dia da empresa, o que tem rendido bons resultados. Lançado no ano passado e desenvolvido em parceria com a academia, o P3G, software de gestão que faz a projeção de indicadores de sustentabilidade para corporações, já ganhou prêmios e está disponível para a comercialização.
Prochmann releva que a parceria com a universidade ainda pode melhorar. "É uma novidade e demanda tempo para adaptação. Contudo, a evolução é nítida e já estamos colhendo frutos", diz.
Positivo
Na Universidade Positivo (UP), o Laboratório de Biologia Molecular (Labim) foi construído em 2008 em conjunto com o Grupo Boticário. "É uma importante maneira de desenvolver pesquisas mais aprofundadas e com maior agilidade", diz o gerente de Pesquisa Científica e Tecnológica da empresa, Gustavo de Campos Dieamant. No Labim e em outros laboratórios mantidos com outras universidades, inclusive já foram desenvolvidos produtos para a pele que hoje estão nas prateleiras das lojas.
O Boticário faz parte do "Top 40", grupo que reúne as empresas com relações mais estreitas com a universidade. O grupo foi criado no novo modelo de cooperação da UP com o mercado. "Estamos mais alinhados às demandas do mercado. Agora focamos em projetos qualitativos e não mais quantitativos", explica o diretor de Desenvolvimento de Negócio, Manoel Knopfholz.