A alta taxa de reprovação dos estudantes que concorreram a uma bolsa do programa Ciência Sem Fronteiras (CsF) na Grã-Bretanha, em decorrência principalmente do nível insatisfatório do inglês, levou o governo brasileiro, a embaixada britânica e a Universities UK (que intermedeia a relação dos bolsistas com as instituições) a reduzir a pontuação mínima exigida nos exames de certificação.
"Gostaríamos de ver ocupada a maior parte das vagas ofertadas pelas 110 universidades britânicas. Por isso, a partir deste ano os alunos que atenderem aos requisitos do programa, mas não atingirem a nota mínima em seus exames de proficiência, serão beneficiados com cursos de inglês intensivos na Grã-Bretanha", afirmou Jaqueline Wilkins, consultora em Educação da embaixada britânica.
Das 4 mil bolsas destinadas até agora pelo Ciência Sem Fronteiras para brasileiros estudarem no país, apenas 1,8 mil, ou 45%, foram preenchidas. A redução da pontuação mínima consta em uma das retificações do edital do CsF, que teve suas inscrições encerradas no dia 25 de janeiro.
Antes, para o Toefl - um dos exames de certificação aceitos pelo programa -, era necessário que o estudante atingisse 72 pontos nas quatro modalidades da prova (compreensão auditiva, leitura, escrita e fala). Com a flexibilização, a exigência mínima caiu para uma pontuação de 42, uma diferença de 30 pontos.
No caso do Ielts - o outro exame aceito na seleção -, era necessário que o estudante atingisse a pontuação de 5,5 nas quatro modalidades. Com a mudança, ele pode, por exemplo, obter 4,5 em duas habilidades e ser considerado apto ao intercâmbio.
O candidato que não conseguir a nota necessária terá de participar de um curso intensivo de inglês na Grã-Bretanha, com duração de três ou seis meses, bancado pelo governo brasileiro.
As aulas da língua estrangeira serão antes e durante os estudos acadêmicos. Ao final do curso, os candidatos precisarão se submeter a um novo teste de proficiência. Quem não conseguir as pontuações originariamente estabelecidas será obrigado a retornar ao Brasil.
Custo-benefício
O vice-reitor e pró-reitor de Coordenação Acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Rui Vicente Oppermann, elogia o programa, mas questiona o fato de o aluno aprender o idioma no exterior. "O governo tem de avaliar muito bem o custo-benefício de enviar alunos brasileiros para aprender inglês na Grã-Bretanha. Temos capacidade para preparar os aluno com um custo menor aqui no Brasil", diz.
Segundo Oppermann, "os alunos deveriam ser enviados para estudar no exterior da maneira como o programa foi originalmente concebido, para que se aperfeiçoem em tecnologia".
A realização dos cursos intensivos é criticada por Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. "Quando analisamos a educação no Brasil, vemos que é comum trocarmos o pneu enquanto o carro anda. Eu duvido que na década de 80 as universidades da Grã-Bretanha aceitariam essa flexibilização. Hoje, elas precisam dos bolsistas brasileiros, pois o ensino superior britânico está falido."
Consultado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um dos órgãos que administram o programa, informou que a "flexibilização dos requisitos linguísticos, associada à participação em cursos de idioma intensivo no país de destino, faz parte das estratégias do programa para a ampliação da participação dos alunos".
O CNPq ainda ressaltou que é necessário que os alunos tenham um nível de proficiência mínimo para o acompanhamento das aulas nas universidades. Para a próxima oferta de vaga na Grã-Bretanha - com previsão para início dos estudos no exterior em setembro de 2013 -, a embaixada britânica espera preencher a "maioria" das 2 mil bolsas previstas por semestre. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.