Contribuição de Gabriela Gugelmin*
"O que você quer para o seu futuro?" Eu mal ouvi a pergunta porque o som do meu coração batendo estava muito alto; as palmas da minha mão suando. A pergunta ecoava na sala. O homem à minha frente magro, cabelos claros, com um olhar profundo de sabedoria esperava pela minha resposta. Isso iria determinar se eu receberia uma bolsa de estudos para sair do Brasil e ir para os Estados Unidos. Mas a única resposta que me veio à cabeça foi: "Sucesso!". Me parecia óbvio. Se eu iria trazer de volta para casa um diploma carimbado com o famoso nome Columbia University, um trajeto que não rumasse ao sucesso parecia improvável.
O número de brasileiros que tem essa mesma ilusão é enorme, pensando que "o nome de uma universidade estrangeira vai enriquecer o currículo". Não é culpa deles! Muitas empresas parecem contratar dessa maneira: "Esse candidato tem um diploma estrangeiro, então ele deve ter aprendido mais do que os que estudaram aqui. Contratado!". Ter um carimbo que diga Harvard, Yale, MIT, Columbia é quase um visto que, imediatamente, abre as portas para uma carreira de sucesso.
É por isso que, a cada ano, mais e mais alunos brasileiros querem conseguir esse "carimbo de sucesso" das universidades estrangeiras. Eu fui um desses casos. Acabei de concluir meu primeiro ano na Universidade de Columbia, em Nova York. A instituição é a número quatro no ranking das melhores universidades americanas, o que se traduz diretamente em um "carimbo de sucesso" na mentalidade brasileira.
Você pode estar se perguntando por que eles me escolheram para receber esse carimbo. Nem eu tenho certeza. Porém, essas universidades selecionam com muita cautela e critério os alunos que serão admitidos. Malcolm Gladwell, um autor de best-sellers, chama isso de modelo de seleção de procura pelo "melhor profissional". A maioria das universidades de qualidade do grupo Ivy League descreve seu processo de seleção como uma procura pelo aluno que terá mais sucesso após a formatura. Outras faculdades mais especializadas, como a Caltech, usam o modelo de procura pelo "melhor aluno", aquele que vai ter o melhor desempenho na sala de aula. Então, por que eu disse que o "carimbo de sucesso" é uma ilusão?
Eu não quis dizer que os alunos que se formam em universidades estrangeiras não vão ter sucesso. A noção de que o carimbo os torna pessoas de sucesso é muito simplista. Não é o "carimbo" que os tornará profissionais de sucesso, mas sim a experiência que eles adquirirão indo estudar fora. Eu sei que isso soa como um clichê, mas é verdade. Eu não estou falando daqueles aspectos batidos que frequentemente mencionam "a dificuldade de aprender uma nova língua" ou de "morar longe de casa". Claro que isso faz parte, mas são aprendizados que seis meses de intercâmbio trariam. Na realidade, morar fora por quatro anos para completar seu bacharelado é uma experiência muito diferente.
Sair da sua aconchegante casa no Brasil, aos 17 anos, para uma "casa" de 10 m², é um desafio e tanto. Especialmente sabendo que essa será a sua casa nos próximos quatro anos. Ter de acordar todo dia e caminhar por um corredor de quartos para lavar o rosto em um banheiro igualzinho de rodoviária frio, feio e sujo é ainda pior. Interessantemente, essa é uma das universidades mais caras do mundo, em uma das cidades mais caras do mundo. São pouquíssimas as pessoas que podem proporcionar aos seus filhos essa oportunidade. Mesmo assim, muitos estão lutando para tentar conseguir entrar e pagar por essa educação tudo para ganhar o tal "carimbo". Você não concorda que, se fosse só um carimbo, não valeria tanto esforço?
Não me entenda mal o carimbo é muito valioso! Eu estou ansiosa para ter em mãos o meu diploma com o carimbo de Columbia. No entanto, se você não desfrutar do que vem junto com o carimbo, você estará desperdiçando tempo e dinheiro. O aspecto mais importante dessas universidades é que elas oferecem muito além da matéria dada na sala de aula. Em muito pouco tempo aqui eu percebi que são essas outras coisas que fazem o tal "carimbo" ser tão valioso e não vice-versa.
No meu segundo mês em Columbia, eu sentei à frente do rei da Jordânia, que compartilhou conosco suas opiniões sobre o conflito entre israelenses e palestinos algumas horas antes de sentar na sala da ONU para discutir o mesmo assunto com outros líderes. Nossas perguntas e preocupações definitivamente foram muito similares às que surgiram na conferência da ONU algumas horas depois. O meu envolvimento com os eventos que marcam nossa história atual nunca tinha sido tão real. No mês seguinte, sentei à frente do meu ídolo: Jeffrey Sachs, o braço direito do secretário-geral da ONU e um gênio da economia sustentável. Encarando meu olhar, ele disse que eu era responsável pelo futuro do planeta. Obviamente, Sachs estava falando de toda a minha geração. De qualquer forma, aquele momento impactante, que eu não poderia ter tido em nenhum outro lugar, me mudou.
Esse tipo de experiência atribui verdadeiro valor ao "carimbo" e nos prepara para nos tornarmos os "melhores profissionais". Minha aceitação em Columbia também se traduziu em um passe de acesso para um mundo repleto de oportunidades fora da sala de aula. Essa é a principal diferença entre estudar em uma universidade brasileira ou em uma estrangeira não o carimbo. No entanto, sou eu quem tem de tomar a iniciativa e aprender com esses momentos fora da sala de aula, mais ninguém.
Portanto, há uma enorme diferença entre tornar-se o "melhor profissional" e ter um carimbo que sugere que você será um bom profissional. Muitas empresas brasileiras não percebem isso. Inclusive, muitos alunos que têm sorte suficiente de ter os meios financeiros para bancar um semestre ou um ano em uma universidade estrangeira acabam erroneamente ganhando os benefícios de ter o mal interpretado "carimbo do sucesso".
Os economicamente privilegiados são aceitos com mais facilidade nessas universidades, como o sociólogo e professor de Berkley, Jerome Karabel, concluiu em um dos seus estudos. Entretanto, raramente são os financeiramente privilegiados que estão dispostos a mergulhar de cabeça nos estudos e aproveitar a experiência estrangeira como um todo, procurando benefícios além da tinta do carimbo no diploma para tornarem-se verdadeiramente os "melhores profissionais".
O Brasil deveria investir mais em educação, como felizmente a presidente Dilma Rousseff está fazendo agora com o novo programa de Ciência sem Fronteiras. Assim, poderemos mandar mais alunos talentosos a universidades estrangeiras de alta qualidade, enquanto elas infelizmente estiverem a um nível extremamente mais alto que as universidades nacionais. Se o governo conceder bolsas para alunos que realmente se comprometam a obter o melhor proveito dos momentos enriquecedores na faculdade, estes mesmos alunos voltarão para o Brasil para dedicar seus conhecimentos ao crescimento do país.
Muitos alunos também merecem o "carimbo do sucesso" e não o ganham. No entanto, nós temos de parar de assumir que o nome de uma universidade estrangeira no currículo é automaticamente melhor. Muitos alunos estão indo estudar fora e não estão aproveitando tudo que as universidades os proporcionam, porém, eles continuam sendo os que mostram o carimbo valioso às empresas brasileiras, que os contratam com a ilusão de que isso automaticamente quer dizer que serão profissionais de sucesso.
Sucesso é uma palavra nebulosa. É impossível saber se eu terei sucesso depois que eu ganhar o meu "carimbo" de Columbia. Se hoje eu pudesse voltar àquele dia da entrevista, eu teria respondido: "Eu quero no futuro ser uma pessoa que tirou o melhor proveito das minhas oportunidades, minhas experiências, meu tempo, e da sua bolsa". E, consequentemente, é isso que me trará sucesso. O "carimbo" é ótimo, porém, o único aspecto que o carimbo me proporciona automaticamente é a oportunidade de procurar novas experiências enriquecedoras para tornar-me a "melhor profissional". Portanto, é isso que os alunos brasileiros e as empresas brasileiras deveriam estar valorizando; não simplesmente um elaborado carimbo.
* Gabriela Gugelmin, 18 anos, aluna de Economia na Universidade de Columbia, em Nova York.
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