Ministro nega problemas em programa de bolsas
Folhapress
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse nesta quarta-feira (24) que os bolsistas no exterior que estão sendo migrados para o programa Ciência sem Fronteiras abrirão espaço orçamentário para alunos de ciências humanas, que hoje não são contemplados pelo programa. Ele negou que haja maquiagem de dados e afirmou que os estudantes migrados "sempre estiveram" no programa, mas não explicou como se dava esse processo.
A Folha de S.Paulo revelou que o governo vinha computando no Ciência sem Fronteiras os bolsistas regulares da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que não tinham se inscrito ou passado no programa, há pelo menos um mês e meio - o MEC depois confirmou que a prática vinha desde 2011. Na última sexta-feira, a Capes informou os bolsistas de seus programas regulares que eles seriam migrados se estivessem dentro de certos critérios.
Segundo Mercadante, as condições do Ciência sem Fronteiras são "muito melhores" por concederem benefícios como subsídio para cursos de idiomas e compra de computadores. Questionado por que apenas na semana passada os alunos foram informados da migração, disse que somente os estudantes de pós-doutorado foram comunicados. "Era uma resposta a ações judiciais de alunos de pós-doutorado, que também queriam direito à verba para laptop e curso de inglês", disse. Ocorre que, como a Folha de S.Paulo mostrou, foram alunos de doutorado que receberam o comunicado.
Questionado novamente, Mercadante só negou o fato e passou a criticar o que chama de "certo problema de pessimismo no país" sobre o programa. Mercadante disse ainda que "não há possibilidade de dupla contagem" nos programas. "Nós temos os CPFs e GPSs de onde eles estão." Ele anunciou também novas 17.282 bolsas de estudos no exterior e disse que o programa chegou a 41.133 bolsas concedidas desde 2011. Afirmou ainda que o governo limitará neste semestre a ida de estudantes a Portugal para que os bolsistas aprimorem o inglês.
As Universidades Harvard, Stanford, Columbia, da Califórnia, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e outras instituições americanas de ponta vão reservar 1,5 mil bolsas de estudo integral até 2015 para estudantes brasileiros cursarem doutorado completo. As bolsas serão financiadas pelo governo federal, por meio do programa Ciência Sem Fronteiras (CsF).
Apesar do convênio com as universidades ter sido firmado no ano passado - motivado pela ida da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos em abril de 2012 -, a falta de divulgação da oportunidade levou a Laspau (entidade vinculada à Harvard), que administra a concessão das bolsas, a realizar ontem uma visita ao País.
"Trata-se de um acordo histórico, sem precedentes. Os estudantes brasileiros precisam saber que eles podem estudar nas melhores universidades norte-americanas", disse Angélica Natera, diretora adjunta da Laspau, durante agenda de reuniões com parceiros institucionais em São Paulo.
Mesmo exigindo que os estudantes tenham apenas diploma de graduação nas áreas prioritárias do CsF - Engenharia, Tecnologias e Saúde -, além de bom nível de inglês, pouco mais de cem candidatos foram pré-selecionados até o momento.
É prevista neste primeiro ano de acordo a seleção de outros 400 estudantes.
As inscrições para início dos estudos em 2014 vão até setembro e podem ser feitas pelo site da Laspau.
A baixa demanda pelas bolsas pode ser justificada pelo desconhecimento de muitos estudantes, que tendo apenas diploma de graduação podem se candidatar diretamente para o curso de doutorado. Ou seja, não precisam cursar primeiramente o mestrado.
"Geralmente, quem sabe desse detalhe é aquele estudante que teve maior aproximação com pesquisa na graduação, com projetos de iniciação científica, por exemplo. Mas quem não teve muito esse contato desconhece", disse Luana Bonone, presidente da Associação Nacional de pós-graduandos.
A falta de domínio de inglês é outro entrave às candidaturas. "Até o pós-graduado tem inglês ruim, mas essa deficiência é curável", disse o economista Cláudio Moura Castro, ex-diretor-geral da Capes, uma das agências de fomento federal que administram o CsF. Solução E a "cura" pode ser até mensurada, afirma André Marques, diretor da EF Englishtown, especialista em certificação. "Para alcançar o patamar que é exigido pela seleção, o pós-intermediário, o estudante que tem nível básico de inglês, precisaria estudar diariamente por um ano e meio", afirmou.
O esforço para preencher as vagas disponíveis pode aumentar a presença de pesquisadores brasileiros nas melhores universidades do mundo. Isso deve fazer avançar áreas da ciência estratégicas para o País, afirmou Luiz Felipe d'Avila, diretor-presidente do Centro de Liderança Pública (CLP). "Podemos nos desenvolver ainda mais na agroindústria e aviação", disse d'Avila.
O CPL pretende implementar uma incubadora nos Estados Unidos para identificar boas ideias dos doutorandos. "Esperamos com o convênio retomar o envio de pesquisadores brasileiros para fazer o doutorado pleno nos Estados Unidos, algo que ocorria mais intensamente nos anos 1960 e 1970", afirmou o presidente da Capes, Jorge Guimarães.
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