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Pesquisa

O capim do cerrado que reluz como ouro

Os professores Arandi Ginane Bezerra Júnior, da UTFPR, e Wido Schreiner, da UFPR, estudaram o dourado do capim por um ano e meio. | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
Os professores Arandi Ginane Bezerra Júnior, da UTFPR, e Wido Schreiner, da UFPR, estudaram o dourado do capim por um ano e meio. (Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo)

Planta típica do cerrado brasileiro, o capim dourado é muito procurado por artesãos devido à coloração característica que assume depois de seca, lembrando lâminas de ouro. É fácil encantar-se pelo fenômeno. O difícil era explicá-lo, pelo menos até agora. Uma pesquisa coordenada pelos professores Arandi Ginane Bezerra Júnior, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e Wido Schreiner, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) ganhou espaço em uma publicação internacional justamente por conseguir o feito inédito.

O estudo levou cerca de um ano e meio e os resultados foram muito diferentes daquilo que se previa em um primeiro momento. "Uma hipótese era a presença de metais no capim, mas fizemos vários testes e concluímos tratar-se de matéria orgânica pura. Não há nenhum metal na planta", explica Bezerra Júnior. Era preciso, portanto, procurar outra explicação para o brilho metálico.

A estratégia adotada foi mudar a pergunta. Em vez de questionar por que aquele tipo de capim tem determinada cor, a dupla de professores passou a pesquisar como a natureza faz para que elementos não metálicos apresentem coloração metálica. Surgiram várias respostas, mas foi somente quando os pesquisadores usaram microscopia eletrônica que o mistério começou a ser esclarecido.

O brilho dourado resulta da combinação de dois fatores. Uma superfície surpreendentemente lisa, a ponto de refletir a luz como um tipo de espelho, e a presença de flavonoides únicos, não identificados em outra planta. Flavonoides são o produto do metabolismo de algumas moléculas, comuns em vegetais, mas geralmente presentes em flores de cor avermelhada. Os flavonoides do capim dourado são responsáveis pela cor amarelada que surge quando a clorofila se esvai. Somada à superfície lisa e brilhante, o amarelo imita a cor do ouro.Outras aplicações

Segundo Bezerra, a descoberta desses flavonoides no capim dourado abre o horizonte para diversas pesquisas, já que o material é fluorescente e, portanto, pode de ser usado na identificação de várias enfermidades, como doença de Chagas, hepatite e aids. Além disso, a capacidade de absorção da luz ultravioleta identificada no capim dourado torna possível o uso da planta em protetores solares.

A pesquisa foi publicada em inglês na revista internacional Industrial Crops and Products e apresentada pelo professor Bezerra Júnior na Universidade de Oxford, na Inglaterra.

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