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Fora da academia

Pesquisa sai da academia e ganha o mercado

Criado em 2013, o Instituto Senai de Inovação (ISI) desenvolve estudos conforme a demanda da indústria. | Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo
Criado em 2013, o Instituto Senai de Inovação (ISI) desenvolve estudos conforme a demanda da indústria. (Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo)

O envolvimento de empresas com a pesquisa científica no Brasil ainda está muito distante da realidade encontrada em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde cerca de 60% dos pesquisadores encontram-se no mercado e o restante está nas universidades. Apesar disso, o país tem algo a comemorar. Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia, 48% de todo o investimento feito em pesquisa no país vêm do setor privado e houve significativo crescimento no número de pesquisadores em empresas. Mudanças na legislação do setor – como a criação da Lei de Inovação – estão entre as principais causas dessa reconfiguração, abrindo novos campos de trabalho para cientistas e contribuindo com o desenvolvimento da ciência nacional.

Em dezembro do ano passado, o IBGE apresentou os resultados da 5.ª Pesquisa de Inovação (Pintec), com dados coletados entre 2009 e 2011. O levantamento mostrou que 55,8 mil profissionais trabalhavam com pesquisa e desenvolvimento (P&D) em empresas, 10,5 mil (23%) a mais do que em 2008.

Uma das motivações mais atraentes para que um pesquisador migre da academia para o setor produtivo está na chance de ver o resultado de seus estudos chegar mais rápido às prateleiras, no dia a dia das pessoas. "Enquanto as universidades realizam pesquisas de base, os institutos de pesquisa privados se destacam por utilizar a pesquisa de base para o desenvolvimento de soluções para o mercado", explica Luiz Carlos Daemme, pesquisador dos Institutos Lactec. Para ele, a academia ainda se preocupa menos do que deveria com as necessidades do mercado, o que têm levado muitos cientistas a verem institutos de pesquisa privados e empresas como opções de trabalho mais realizadoras.

Uma crítica comum feita por cientistas que saíram do meio acadêmico está na importância, supostamente excessiva, que se atribui à publicação de trabalhos. O diretor-presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Júlio César Felix, aponta que a diferença fundamental entre a pesquisa feita dentro e fora das universidades estaria na aplicação dos trabalhos. "A maioria dos pesquisadores nas universidades se satisfaz com a publicação do resultado em revistas científicas, mas as empresas focam na ampliação de seus negócios", diz. Como consequência, as pesquisas que interessam ao setor produtivo tendem a ter maior alcance, com chances reais de ganhar relevância junto à sociedade.

Aproximação

A ampliação do mercado de trabalho para cientistas em empresas está diretamente atrelada às mudanças na relação entre academia e setor produtivo, que encontrava muitos obstáculos no Brasil até poucas décadas atrás. De acordo com Marcelo Filipak, gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Bematech, há 15 anos, a percepção de muitas universidades era de que as empresas deveriam financiar projetos sem que esses trouxessem, necessariamente, algum benefício para a empresa. "Hoje essa cultura está bastante modificada", afirma. A Lei de Inovação do Paraná, aprovada em 2013, é um exemplo dessa transformação. A nova legislação facilita a formação de convênios entre pesquisadores de universidades públicas e empresas privadas, praticamente proibidos antes da nova norma.

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