A imagem de ratinhos sofrendo até a morte em laboratórios tem afastado milhares de consumidores de marcas de cosméticos e outros produtos que fazem testes em animais. Alternativas menos cruéis são pesquisadas em diversas partes do mundo e têm sido adotadas com sucesso em algumas situações. Uma delas, desenvolvida no Departamento de Microbiologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), propõe o uso de larvas de mariposas em substituição às cobaias tradicionais.
Coordenado pelo professor Ricardo Sérgio Couto de Almeida, o projeto "Modelos alternativos de infecção e teste de substâncias: larvas de Galleria mellonella" já obteve resultados positivos, inclusive, com economia de tempo e recursos financeiros. Almeida conheceu o trabalho com larvas em 2009, durante um curso nos Estados Unidos, e passou a usá-las em pesquisas devido à agilidade que representam. "Para fazer um teste com camundongo, você precisa de aprovação do comitê de ética. Muitas vezes, o que você quer é só uma publicação e o uso de larvas acelera o processo."
Desprovidas de sistema nervoso central, as larvas de mariposa são incapazes de interpretar dor e emoção. Outra vantagem é que, enquanto um laboratório de pesquisa com 35 gaiolas custa R$ 12 mil, uma incubadora de larvas sai entre R$ 3 mil e 5 mil. "Um camundongo para pesquisadores custa R$ 5. Já uma larva custa uns R$ 0,25." A resposta mais rápida das larvas durante os estudos também é apontada como fator positivo. "Com camundongos, o resultado das minhas pesquisas aparecia em um mês. Com as larvas, esse tempo caía para 72 horas", diz Almeida.
Laboratório
No laboratório do professor na UEL, cerca de 2 mil larvas são produzidas por mês. O responsável por colocá-las em pesquisas é o estudante de Odontologia Gabriel Castanheira, 24 anos, integrante do projeto na modalidade de iniciação científica. "Fico aqui à disposição para fazer os testes que outros pesquisadores precisem." Atualmente, quatro laboratórios da UEL usam ou já utilizaram as larvas em estudos relacionados a fungos e bactérias.
Amplamente aceitas em publicações científicas, as larvas, segundo Almeida, podem ser usadas em nível industrial. O projeto do professor, inclusive, é montar uma empresa para venda de larvas, consultoria e treinamento de pessoal. Além da UEL, mais duas universidades brasileiras a de São Paulo (USP) e a Estadual Paulista (Unesp) contam com pesquisas na área. "Falta divulgação e interesse. Sugeri o uso a um amigo que trabalha em indústria farmacêutica em Campinas, e ele disse: Mas a Anvisa aprova?. A conversa acabou aí. Minha intenção é dar entrada na Anvisa", conta Almeida.