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Primeiros passos Larvas responderam bem a teste feito com antibiótico
Colega de departamento de Ricardo de Almeida, com quem já compartilhou pesquisas, o professor de Microbiologia Galdino Andrade resolveu experimentar as larvas para testes de eficiência de um antibiótico contra bactérias hospitalares resistentes, que vem estudando há dez anos. "Fizemos os testes de fase um, em que você infecta o organismo com a bactéria e aplica o antibiótico para ver se a larva sobrevivia. Deu certo, a larva tem potencial."
Na avaliação de Andrade, as larvas nunca substituirão completamente os roedores, mas são uma alternativa importante para fases iniciais de pesquisa. "Chega uma fase em que é necessário testar em animais, mas o uso é muito burocrático. Além de demorar [a liberação pelos comitês de ética], exigem que você reduza o máximo possível, o que chega a comprometer a qualidade da pesquisa." (BK)
A imagem de ratinhos sofrendo até a morte em laboratórios tem afastado milhares de consumidores de marcas de cosméticos e outros produtos que fazem testes em animais. Alternativas menos cruéis são pesquisadas em diversas partes do mundo e têm sido adotadas com sucesso em algumas situações. Uma delas, desenvolvida no Departamento de Microbiologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), propõe o uso de larvas de mariposas em substituição às cobaias tradicionais.
Coordenado pelo professor Ricardo Sérgio Couto de Almeida, o projeto "Modelos alternativos de infecção e teste de substâncias: larvas de Galleria mellonella" já obteve resultados positivos, inclusive, com economia de tempo e recursos financeiros. Almeida conheceu o trabalho com larvas em 2009, durante um curso nos Estados Unidos, e passou a usá-las em pesquisas devido à agilidade que representam. "Para fazer um teste com camundongo, você precisa de aprovação do comitê de ética. Muitas vezes, o que você quer é só uma publicação e o uso de larvas acelera o processo."
Desprovidas de sistema nervoso central, as larvas de mariposa são incapazes de interpretar dor e emoção. Outra vantagem é que, enquanto um laboratório de pesquisa com 35 gaiolas custa R$ 12 mil, uma incubadora de larvas sai entre R$ 3 mil e 5 mil. "Um camundongo para pesquisadores custa R$ 5. Já uma larva custa uns R$ 0,25." A resposta mais rápida das larvas durante os estudos também é apontada como fator positivo. "Com camundongos, o resultado das minhas pesquisas aparecia em um mês. Com as larvas, esse tempo caía para 72 horas", diz Almeida.
Laboratório
No laboratório do professor na UEL, cerca de 2 mil larvas são produzidas por mês. O responsável por colocá-las em pesquisas é o estudante de Odontologia Gabriel Castanheira, 24 anos, integrante do projeto na modalidade de iniciação científica. "Fico aqui à disposição para fazer os testes que outros pesquisadores precisem." Atualmente, quatro laboratórios da UEL usam ou já utilizaram as larvas em estudos relacionados a fungos e bactérias.
Amplamente aceitas em publicações científicas, as larvas, segundo Almeida, podem ser usadas em nível industrial. O projeto do professor, inclusive, é montar uma empresa para venda de larvas, consultoria e treinamento de pessoal. Além da UEL, mais duas universidades brasileiras a de São Paulo (USP) e a Estadual Paulista (Unesp) contam com pesquisas na área. "Falta divulgação e interesse. Sugeri o uso a um amigo que trabalha em indústria farmacêutica em Campinas, e ele disse: Mas a Anvisa aprova?. A conversa acabou aí. Minha intenção é dar entrada na Anvisa", conta Almeida.
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