Entrevista
"Os resultados de melhora nos ratos nos deram esperança"
José Ademar Villanova, pesquisador do Núcleo de Terapia Celular da PUCPR.
Com os ratos, a lesão que causou a paraplegia foi provocada. Na próxima etapa, com cães, será diferente?
Nos ratos, tivemos de induzir uma lesão e só o fizemos por entendermos que é um mal necessário. Quando há dano padronizado, mesmo peso, tempo e extensão da lesão, temos como comparar melhor os resultados. Com cães, vamos atender uma demanda que já existe, pois há pessoas que procuram ajuda por terem cão incontinente ou paraplégico. Nossa intenção é atender o maior número possível de cães.
Qual a expectativa nesta nova etapa?
A lesão medular é considerada intratável e incurável. Com corticoide, que é um anti-inflamatório muito usado na Medicina e Veterinária, danos são contidos, mas sem estimular a regeneração. Os resultados de melhora nos ratos nos deram grande esperança. Já sabemos que as células-tronco podem ajudar pessoas enfartadas, com problemas articulares, entre outras doenças. Esperamos, em cinco ou 10 anos, realizar estudos com células-tronco em pessoas com lesão medular.
Resultados bem-sucedidos em um estudo com células-tronco contagiaram pesquisadores da PUCPR e da UFPR. O trabalho consistia em aplicar células humanas em ratos paraplégicos, o que levou à recuperação parcial dos movimentos e do controle urinário dos roedores. Os experimentos envolveram pesquisadores dos programas de pós-graduação em Ciências da Saúde, da PUCPR, e em Ciências Veterinárias, da Federal.
A experiência foi feita em 63 ratos divididos em três grupos. Enquanto um coletivo não recebeu as células-tronco, os outros receberam a mesma quantidade, sendo que o terceiro grupo também foi medicado com corticoide (anti-inflamatório). De acordo com resultados estatísticos, as células-tronco apresentaram efeitos benéficos na recuperação de ratos com incontinência urinária e perda total de movimentos nas patinhas traseiras.
Para confirmar o efeito, as células implantadas foram divididas em duas etapas, a primeira teve marcação com corante vermelho e a segunda com corante verde. Com isso, explicam os pesquisadores envolvidos, foi possível demonstrar que as células permaneceram no local transplantado medula espinhal dos animais após 90 dias.
Futuro
Iniciado em 2011, o estudo foi conduzido pelos pesquisadores José Ademar Villanova Junior, doutor em Ciências Veterinárias, e pela mestre Letícia Fracaro, que ficaram animados com os resultados obtidos e continuarão pesquisando a mesma área em projetos futuros. "Nessa fase, usamos animais de laboratório, que são camundongos, ratos, coelhos. Posteriormente, podemos usar mamíferos maiores, como cães, gatos, porcos, ovelhas e macacos. Depois, vamos ampliar para pessoas", explica Villanova.
Células-tronco
Encontradas em todo organismo humano, as células-tronco têm a capacidade de se multiplicar e se diferenciar em diversos tecidos. Quando retiradas, podem ser transplantadas em novos organismos, onde se mantêm em um estado genérico indiferenciado até que se transformem em outras células, como neurônios. Existem mais de 5 mil testes clínicos sendo feitos pelo mundo com células-tronco retiradas de pessoas adultas. Os usos são variados e entre os benefícios estão o tratamento de doenças genéticas, tumores e problemas de imunodeficiência. As células mais usadas, por serem de mais fácil manipulação, são as da medula óssea, tecido adiposo e as do sangue do cordão umbilical.