Para Ramon Blanco de Freitas, a paz reconstruída em Timor-Leste não chegou à população.| Foto: Andrees Latif / Reuters

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"Ao ignorar essa realidade [a da população] e tentar impor um modelo [de paz], indiscriminadamente, em várias partes do mundo, evidentemente que isso não vai dar certo."

Ramon Blanco de Freitas, professor do curso de Relações Internacionais da Unila.

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Estudos sobre paz sempre inquietaram o professor Ramon Blanco de Freitas em sua trajetória acadêmica. Em busca de respostas sobre a reconstrução pós-bélica no Timor-Leste, ele desenvolveu o trabalho Peace as Government: The (Bio)Politics of State-Building – ou Paz como Governo: A (Bio)Política da (Re)Construção de Estados, em português –, reconhecido como a melhor tese de doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Associação Portuguesa de Ciência Política.

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Professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, Freitas é formado pela UFRJ e começou a pesquisar o tema no mestrado. O assunto evoluiu e deu origem à tese concluída no segundo semestre de 2013, na Universidade de Coimbra.

A pesquisa teve base no modelo de reconstrução pós-bélica usado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em cenários pós-conflito. A análise concentrou-se no caso do Timor-Leste, no Sudeste Asiático, onde o professor fez um estudo de campo em 2012. Colônia portuguesa entre o século 18 e meados da década de 1970, o país tem um histórico de violência decorrente de ocupações e conflitos bélicos, incluindo a Segunda Guerra Mundial e ações envolvendo Portugal e a Indonésia.

Paz limitada

Na avaliação de Freitas, a construção da paz no Timor-Leste foi limitada. "Essa paz, na verdade, não chega às populações." Uma das constatações deu-se a partir dos indicadores sociais do país. Apesar de as forças da ONU permanecerem na região por mais de uma década, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país alterou muito pouco. Após a saída da ONU, por exemplo, a capital do Timor, Dilí, não contava com saneamento básico, diz o professor.

Freitas considera que o processo de construção da paz no país teve um viés ideológico neoliberal marcante na organização política, econômica e social e não representou melhoria na qualidade de vida da população. Embora não tenha discutido na tese alternativas para estabelecer a paz, o professor defende que em um processo desses é preciso ouvir outras vozes, especialmente a de moradores locais. "Ao ignorar essa realidade e tentar impor um modelo, indiscriminadamente, em várias partes do mundo, evidentemente que isso não vai dar certo", afirma.

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Para a análise, Freitas recorreu a um referencial teórico da Filosofia Política baseado nos preceitos do filósofo francês Michel Foucault. O professor pretende continuar o estudo com a análise de outros casos e outras dimensões não contempladas na tese.