Esporte
O cheerleading surgiu nos EUA em 1884, na Universidade de Princeton, como uma atividade masculina. As mulheres ingressaram nas equipes na década de 1920. A ideia de que o esporte é machista vem dos anos 1980, quando filmes de Hollywood passaram a retratar as cheerleaders como burras e símbolos sexuais. De acordo com o presidente da União Brasileira de Cheerleaders (UBC), Rodrigo Gonçalves Silva, ainda é comum o esporte ser considerado machista. "Trabalho com o esporte no Brasil há quase dez anos e sempre sofremos esse tipo de pressão", conta. O esporte consiste no uso organizado de música, dança e elementos de ginástica para fazer com que os torcedores animem seus times. O Campeonato Brasileiro de Cheerleading é promovido desde 2011.
5 equipes
são conhecidas pela União Brasileira de Cheerleaders (UBC) no Paraná. Além da Helgas e Hagars, há a Pigcesas, das Engenharias da UTFPR de Medianeira; as torcidas de times de futebol americano Cheers Predadoras e Cheerleaders Legends; e o time da academia WorkOut Sports. No Brasil, há pelo menos 29 clubes de cheerleading. Cada equipe tem entre 10 e 36 atletas.
INTERATIVIDADE
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A criação de um grupo de cheerleading na UFPR, em fevereiro, abriu espaço para uma discussão sobre o machismo na universidade. De um lado, a Associação Atlética C7, dos cursos de Engenharia e Arquitetura, que convocou estudantes para integrar a equipe de líderes de torcida Helgas e Hagars. Do outro, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), que divulgou nota afirmando que a criação do grupo seria a "naturalização do machismo na UFPR".
O time da C7 surgiu com o objetivo de participar, em maio, da competição de cheerleading nas Engenharíadas Paranaense, os jogos universitários dos alunos de Engenharia do Paraná. A coordenadora do Helgas e Hagars, Marina Jordana Linck, conta que este será o primeiro ano em que a modalidade fará parte dos jogos. "Ter uma competição para participar foi o incentivo que faltava para criar um time", explica. O Helgas é o segundo time universitário do Paraná, ao lado do Pigcesas, dos alunos de Engenharia da UTFPR em Medianeira.
O grupo da UFPR conta hoje com 18 mulheres e seis homens, que treinam todas as terças e quintas-feiras. Para entrar na equipe, não houve seleção. "O esporte tem regras e técnicas e usa recursos da dança e da ginástica rítmica. Mesmo assim, não impedimos ninguém de participar: homens, mulheres, gordos, magros, altos, baixos, fortes, fracos", conta Mariana, que não encara a atividade como machista.
Crítica
Um mês após a convocação do C7, o DCE divulgou nota criticando a criação do time. Para o diretório, esse tipo de prática coloca a mulher "em uma posição inferior e submissa ao homem nos mais diversos âmbitos da vida". A submissão, a erotização da mulher e a "secundarização" em relação ao homem são exemplificadas no documento ao expor que, enquanto os homens estarão em campo, as mulheres estarão "animando a torcida com as pernas de fora".
De acordo com Jennifer Oliveira Martins, membro da comissão de comunicação do DCE, o diretório não é contra a criação do time. "A gente é contra as práticas machistas [trotes opressores e músicas ofensivas] do C7. O que nos preocupa é onde o grupo está sendo criado e como as meninas vão lidar com o assédio no momento de uma competição", explica.
A advogada e militante feminista Xênia Karoline Mello alerta que não dá pra ser radical nesse caso. "Se julgarmos como oito ou 80, estamos dizendo que a mulher não é capaz de tomar decisões nem de escolher o que fazer com o próprio corpo." Ela explica que o machismo pode se manifestar sobre as líderes de torcida, mas não pelo grupo ser secundário. "Não dá pra falar que a torcida é coadjuvante de time. O machismo se aproveita quando as mulheres são protagonistas da torcida. A mulher em um espaço de liderança em uma sociedade machista acaba se tornando um objeto. É esse discurso que temos de combater", alerta.
Conscientização
Ações e eventos não deixam o machismo passar batido na UFPR
O debate em torno do novo grupo de cheerleading da UFPR levou à promoção de dois eventos, em março, para levar os alunos a refletirem sobre o assunto. A Associação Atlética C7 convocou os alunos para a Discussão sobre o Feminismo, que tratou a relação das mulheres com o esporte e a tecnologia. Já o DCE abordou a polêmica no debate Machismo na Universidade.
Essas não foram as únicas iniciativas dentro da UFPR para discutir o machismo. O DCE tem em seu calendário várias ações para colocar o tema em pauta. No início do ano, o diretório promoveu a campanha Integração sem Opressão, para coibir trotes machistas. Além disso, Jennifer Oliveira Martins, membro do DCE, conta que reuniões com grupos feministas são constantes para elaborar ações para a universidade.
No segundo semestre, o DCE lançará o Manual da Caloura. "Ele vai deixar claro tudo o que as meninas ingressantes na universidade não são obrigadas a fazer", explica Jennifer. Outra ação voltada à discussão sobre o assédio em festas também está sendo avaliada pelo diretório.
Seminário
Entre os dias 7 e 9 de maio, a UFPR receberá o evento Descolonizando Representações: Arte, Corpo e Imagem Dissidente, que problematizará a produção e a circulação de imagens nas culturas e sociedades a partir das perspectivas dos estudos culturais, artes visuais, fotografia, cinema e das relações de gênero. O seminário será promovido pelo Grupo Mulheres e Produção Cultural da universidade.
PUCPR
Na PUCPR também há um Núcleo de Estudos de Gênero para aprofundar questões e temas e fazer uma reflexão para complementar o estudo acadêmico. Os grupos se reúnem a cada 15 dias e é aberto para a comunidade. Para os alunos da universidade, a participação vale horas complementares.
UniBrasil
Para combater práticas machistas na faculdade, a UniBrasil criou o projeto Mulheres Paranaenses, evento sempre promovido em março para homenagear mulheres com participação relevante em diversos segmentos no Paraná. De acordo com a coordenadora do projeto, Wanda Camargo, os alunos participam do evento e ajudam na indicação de possíveis homenageadas. "O objetivo é destacar o trabalho feminino na construção do Paraná e posicionar a instituição em relação à igualdade de gênero", explica Wanda.
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