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Rumo às urnas

Estudantes disputam votos dentro do câmpus

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As universidades deixaram de ser os principais centros de mobilização política do país há algum tempo, mas isso não impede que o ambiente acadêmico dê origem a uma nova geração de cidadãos especialmente interessados em agir em causas públicas, indo além dos debates em sala de aula. Distantes dos antigos discursos partidários da época da ditadura – auge dos movimentos estudantis –, os jovens universitários que se candidatam hoje quase não falam de ideologias e colocam o foco de suas campanhas em problemas urbanos concretos e necessidades típicas da juventude atual.

Os tradicionais processos de apadrinhamento ou influência de parentes políticos mantêm-se, mas também há iniciativas independentes, não atreladas a nenhuma grande figura local. A diversidade partidária é notoriamente maior do que a conhecida décadas atrás, quando ser politicamente engajado era quase sinônimo de afinidade com a esquerda. O elemento comum a todos é o repúdio à boa parte dos atuais representantes do povo, rejeição que surge como fruto evidente dos recentes e sucessivos escândalos de corrupção.

Segundo o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Masimo Della Justina, o desânimo dos jovens com a atual classe política e a perda de relevância do movimento estudantil têm origens históricas. Para ele, depois do fim da ditadura, as instituições estudantis passaram a se dedicar a campanhas específicas, fazendo oposição ao pagamento da dívida externa, por exemplo. De alguns anos para cá, o atrelamento ao governo federal se tornou tão grande que o clássico ímpeto opositor dessas organizações, com todo o seu poder de mobilização, praticamente se diluiu.

Palanque

Quanto à universidade como um bom palco para vencer eleições atualmente, Justina não se mostra tão confiante. No ambiente acadêmico não há o cooperativismo típico de outras categorias sociais e a candidatura de colegas não parece ser suficiente para estimular o universitário a ser mais ativo politicamente. Entretanto, experiências de outros países levam o especialista a dar uma sugestão viável para o movimento estudantil e para jovens políticos que pretendem começar a carreira na faculdade.

"Em países desenvolvidos, o foco desses jovens é o bem-estar do estudante, a qualidade de ensino e até o vínculo com os esportes." O professor cita a China, a Rússia e os Estados Unidos como exemplos, nos quais boa parte dos atletas olímpicos se destaca no ambiente universitário e onde as políticas de acesso ao esporte têm forte engajamento dos jovens. Confira abaixo os perfis de alguns jovens candidatos a vereador que se declaram estudantes e estão na universidade.

>>> Deixe também a sua opinião: a universidade é um bom palanque eleitoral? Por quê? Que tipo de campanha eleitoral poderia ter bom retorno nos câmpus?

Das baladas para as urnas

Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Militante partidária desde os 14 anos, a estudante de Publicidade e Propaganda Thatiane Marques (foto), 20 anos, afirma que resolveu se candidatar neste ano por causa da ausência de representantes jovens na Câmara Municipal de sua cidade. Candidata a vereadora em São José dos Pinhais pelo PDT, Thati – apelido que usa na campanha – leva a maratona eleitoral paralelamente às aulas na PUCPR e acha que a jornada dupla só traz vantagens. "Os professores acabam sendo meus assessores e até as críticas ajudam. Com elas eu identifico as melhores estratégias", conta. Entre os colegas, a candidatura despertou surpresa. "Eles achavam que era brincadeira porque não sabiam do meu histórico na política. Só conheciam a Thati que ia para baladas." Apesar do espanto inicial da turma, a popularidade de seu perfil no Facebook foi às alturas. Em menos de um mês em campanha, a estudante passou de algumas centenas para cerca de 2,4 mil amigos adicionados.

Disciplina motivadora

Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

O interesse da estudante de Direito Bárbara Bosi (foto), 20 anos, do PHS pelo mundo político surgiu depois de um estágio na Câmara de Vereadores de Araucária, mas a decisão de candidatar-se para uma vaga na Casa foi tomada durante as aulas de Direito Tributário. Foi nessa disciplina que ela passou a entender mais sobre o quanto seu município arrecada, todos os processos pelos quais o dinheiro público passa, como e quanto é gasto em cada área. "Vi que minha cidade é rica e acho que é possível investir muito mais." Investimento em lazer, aliás, é um dos focos de seu discurso. Segundo ela, faltam espaços para a juventude em araucária, o que leva os estudantes a procurarem diversão em Curitiba. O envolvimento com a campanha levou bárbara a trancar algumas disciplinas neste semestre na Faculdade Educacional Araucária (Facear), mas o retorno integral às aulas é garantido, independentemente do resultado das urnas. "Quero me formar e fazer especialização em direito administrativo."

Paradoxo juvenil

Hugo Harada / Gazeta do Povo

Gregory Schoembakla Slaviero Bunn (foto), ou apenas grego Cruz (PPS), 20 anos, está no 8º período de direito no Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) e afirma que o gosto por gestão pública foi crescendo durante toda a vida escolar. "A faculdade me deu ferramentas, mas o grande apoio vem mesmo do meu antigo colégio", conta o estudante, referindo-se ao Colégio Medianeira, onde, segundo ele, houve uma calorosa recepção à sua candidatura por parte de ex-professores e colegas. Em sua busca por votos, Cruz já sentiu a resistência de alguns estudantes do ensino superior e constata um paradoxo. "Os próprios jovens acham que candidatos jovens não transmitem confiança, enquanto os mais velhos dizem que votarão em mim justamente por ser jovem." Segundo ele, a sociedade como um todo sai prejudicada com o desinteresse da juventude pela política, já que os jovens seriam o "o termômetro da sociedade".

Público amplo

Antonio More / Gazeta do Povo

Para o estudante de administração da Universidade Positivo (UP) Lucas Vieira Leal (foto), 21 anos, a candidatura surgiu dentro do partido a que pertence – o PSD –, no qual preside a seção jovem. Com o apoio garantido da sigla e para não prejudicar o rendimento em sala de aula, Leal optou por trancar algumas disciplinas para dedicar-se o máximo à campanha, que não terá apenas a juventude como foco. "Decidi não optar só pelo público jovem porque um bom vereador trabalha para toda a população." Embora nunca tenha se envolvido com o movimento estudantil, Leal conta com o apoio de amigos que também têm interesse e fazem política. Fora da faculdade, o estudante conta com a amizade de outros jovens políticos. O jovem garante que o foco na gestão pública vai além das eleições, já que faz parte de seus planos uma especialização em Ciências Políticas.

De porta em porta

Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Abner Checon (foto), 22 anos, é membro da união da Juventude Socialista e militante da União Paranaense dos Estudantes. Ele concentra seus esforços no Sítio Cercado, bairro onde mora, e se apresenta à vizinhança de porta em porta pedindo votos. Candidato do PCdoB, o jovem não deixa de incorporar no discurso reivindicações típicas dos universitários de hoje. Aluno de Direito nas Faculdades Opet – embora tenha trancado a matrícula para se dedicar à campanha –, ele luta pela criação de um diretório central dos estudantes para viabilizar reivindicações como mensalidades mais baixas. Quanto à receptividade dos colegas, Checon é realista: "encontro dificuldade de conversar com o pessoal das faculdades particulares porque todo mundo está muito envolvido numa rotina intensa de trabalho e estudo". Para ele, o ritmo frenético em que vivem os universitários é uma das razões para a atual apatia às questões políticas.

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