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 | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Michael Löwy, pensador marxista brasileiro e diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique, na França, esteve em Curitiba no dia 14. Além de falar sobre o ecossocialismo, tema de sua palestra na UniBrasil, Löwy expôs o que pensa sobre as políticas educacionais dos últimos governos e a atração que temas ecológicos exercem sobre a juventude:

O que é o ecossocialismo?É uma tentativa de combinar o socialismo com a problemática ecológica. Isso implica uma crítica ao socialismo não ecológico, que foi o da experiência soviética, que ignorou completamente a questão ambiental e teve consequências catastróficas, como Chernobyl. A discussão procura convencer todos os socialistas de que a questão é fundamental. Não dá para pensar o socialismo do século 21 ignorando o meio ambiente. Por outro lado, também é uma tentativa de convencer os ecologistas de que tratar o tema fora do socialismo não resolverá o problema. O ecossocialismo é uma proposta radical de um novo padrão de civilização.

Críticos do marxismo dizem que os socialistas passaram a dar mais ênfase ao discurso ecológico como meio de manter a relevância, já que com a queda da União Soviética o marxismo clássico teria caído em descrédito. Como o senhor avalia essa crítica?A proposta ecossocialista é anterior ao fim da União Soviética. Para mim, o precursor do ecossocialismo no Brasil foi Chico Mendes, nos anos 70. Agora, é verdade que o fracasso soviético colocou a questão ecológica de forma bastante contundente para todos os socialistas, como disse, nós partimos de uma reflexão crítica daquela experiência. Entretanto, o tema am­­biental não surge de uma tentativa de marketing, mas sim de um fato. Os problemas ecológicos estão cada vez mais graves, a ameaça do aquecimento global não é algo para daqui a um século, mas sim para as próximas décadas, e isso significa desertificação, desaparecimento da água potável, submersão de cidades marítimas. São questões muito importantes, por isso achamos que o socialismo tem de assumir essa problemática.

Temas ecológicos e relacionados à sustentabilidade têm levado um grande número de jovens para o engajamento em organizações ambientais e iniciativas voluntárias na área. Por que ocorre essa atração?A juventude tem mais capacidade de indignação, vontade de mudar as coisas, e os ecologistas partem exatamente de uma indignação para lutarem contra os problemas ecológicos que se agravam enquanto os governos desconversam. Além disso, quem vai sofrer as maiores consequências do aquecimento global é a juventude, porque os efeitos virão dentro de 30 ou 40 anos. Enfim, não é difícil explicar porque os jovens se revoltam, o difícil é explicar porque não há muito mais revolta.

Ainda sobre juventude, os governos Lula e Dilma ampliaram o acesso à universidade por meio de financiamentos e bolsas em instituições privadas. Qual sua opinião sobre essas medidas?São paliativos, e como todo paliativo essas medidas aliviam, mas não resolvem. A solução é o acesso massivo de todos os jovens à universidade pública. Não é preciso uma revolução socialista para isso. Na França, país capitalista, o ensino universitário é totalmente público. O que um governo progressista deveria fazer é viabilizar a construção de universidades e criação de vagas em instituições públicas, priorizando a educação no orçamento. Se os investimentos fossem focados nisso, e não no agronegócio ou em bancos, haveria recursos suficientes.

A partir de sua experiência na França, quais as diferenças essenciais entre os universitários franceses e os brasileiros?Eu sinto que os estudantes brasileiros de hoje são mais politizados que os franceses. Vejo muita preocupação social, interesse por ecologia e novas ideias. O ambiente universitário daqui é mais aberto às novas propostas, e isso eu percebo tanto em professores como nos alunos.

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