A procura de estudantes por trabalhos prontos é tão grande que fabricantes de monografias se dedicam exclusivamente a esse serviço. Cinco pessoas procuradas pela reportagem revelaram que se encontram nessa situação. Duas delas mantêm anúncios explícitos em murais de universidades curitibanas. As outras criaram sites e prestam o serviço nacionalmente. Todos admitem ser antiético colocar o nome em um trabalho que não foi feito pela própria pessoa e tentam se isentar da culpa, dizendo que o aluno deve ter o trabalho como base, estudálo e desenvolver as próprias ideias em cima do material. Eles reconhecem que essa teoria não funciona na prática.
Um deles conta que mora em uma cidade pequena e não consegue emprego, o que o motivou a fabricar monografias. "Comecei digitando e formatando trabalhos. Depois, as pessoas começaram a perguntar se eu fazia [monografias], pois estavam sem tempo. Não sou uma empresa. Tenho nome próprio, telefone fixo. De forma alguma estou prejudicando os alunos, pois eles vão ter que ler, mostrar para o orientador e apresentar na banca", diz.
Milhares
A equipe de um mestre em Educação já concluiu mais de 8 mil monografias. Ele conta que começou a formatar trabalhos nas normas técnicas em 2003 e afirma que, se o seu trabalho existe, é por uma falha no sistema educacional brasileiro. "Estamos em pleno século 21 e as universidades veem os alunos como clientes. Hoje qualquer um pode lecionar, mesmo sem o menor conhecimento científico. Se está acontecendo algum crime, quem está cometendo o crime é o próprio governo ao não fornecer a educação adequada, correspondente aos impostos que pagamos", diz.
Formada em Pedagogia e com mestrado em Educação, uma mulher que trabalha sozinha em Curitiba diz que está há 17 anos na área e já fez 2,2 mil trabalhos. Cobra R$ 500 por monografia. O valor pode chegar a R$ 600 se o estudante também quiser um préprojeto para entregar ao professor durante as orientações. Se o aluno não souber que tema escolher, ela sugere alguns, consultando seu banco de produções.
Importância da pesquisa deve ser assimilada
As aulas de Metodologia são obrigatórias para quem vai fazer um trabalho de conclusão de curso (TCC), mas a disciplina está longe de ser a favorita dos alunos. Eles acham a matéria chata e costumam não ter paciência para aprender as regras do universo científico. "Eles devem entender que as normas técnicas possibilitam a comunicação com o mundo. A prática de colocar uma citação com o sobrenome e nome do autor é usada no mundo inteiro", diz o doutor em Educação Joe Garcia.
Para a mestre em Políticas Educacionais Paulla Helena Silva de Carvalho, apesar de um trabalho acadêmico ser complexo, estudantes conseguem fazêlo bem se organizarem um cronograma e não deixarem a produção para a última hora. "O prazo é de um ano a um ano e meio. Vão ser usadas as férias, os fins de semana, mas é necessário para que o estudante conclua o curso de forma significativa," considera.
A advogada Clara Borges lembra que um bom trabalho final e uma defesa eficiente influenciam a forma como colegas e professores veem o aluno. Por outro lado, quem é pego por plágio ou apresentando um trabalho que não é dele ficará "marcado" perante a comunidade acadêmica, além de enfrentar uma segunda banca ainda mais rígida.
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