Luiza Ribeiro é adepta do caderno e da caneta. Faz flechas, asteriscos e destaca palavras-chaves para facilitar o estudo.| Foto: Giuliano Gomes / Gazeta do Povo

Material didático vai para a web e cresce a comodidade dos alunos

Base para qualquer aula há alguns anos, o quadro negro virou quase obsoleto no ensino superior. O universo dominado por apresentações em slide ou por debates e reflexões sobre livros ganhou um novo suporte de ensino. A "intranet" ou "portal do aluno" disponibiliza na web boa parte do material usado em sala e pode ser acessado a qualquer momento, de qualquer lugar. A facilidade para obter o conteúdo, no entanto, acomodou muitos estudantes, que aposentaram de vez o caderno e a caneta.

"Os recursos estão aí. A visita à biblioteca foi praticamente descartada pelos alunos, que pegam pesquisas resumidas na internet", lamenta o professor Naim Akel Filho, da PUCPR. Agora, com aulas que "dispensam" as anotações, a passividade dos menos interessados cresceu. "Facilitou o acesso, mas atrapalha a compreensão. O professor precisa valorizar mais o que diz", afirma a especialista Maria Iolanda Fontana, da Tuiuti.

Como a tendência parece não ter volta, é tarefa de todo educador desafiar os alunos para irem além, defende Akel Filho. "Cobramos do corpo docente para não entregar a coisa pronta. É uma grande preocupação nossa." (BB)

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INTERATIVIDADE

Qual a sua postura na sala de aula? Faz anotações? Só escuta o professor? Quais os resultados obtidos? Deixe seu comentário na caixa abaixo.

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Notebooks e tablets têm ocupado o lugar do caderno em escolas e universidades. Se você é daqueles que deixa o computador em casa e continua a fazer anotações à mão, é maior sua chance de ter um aprendizado melhor. É o que diz um estudo norte-americano publicado na revista científica Psychological Science.

Os pesquisadores Daniel Oppenheimer, da Universidade da Califórnia, e Pam Mueller, de Princeton, conduziram experimentos com 327 alunos orientados a fazer anotações durante palestras on-line. Metade usou papel e caneta e o restante, notebook. O desempenho do primeiro grupo foi superior nas duas provas aplicadas: uma feita meia hora depois da palestra e outra programada para a semana seguinte, quando os jovens tiveram a chance de estudar. Ambos os exames abordaram fatos simples, conceitos e aplicações do conteúdo.

O resultado poderia ser justificado pela distração dos alunos que usaram o computador, mas o estudo em laboratório não permitia acesso à internet ou qualquer outra atividade paralela. "O ato de escrever ativa muito mais áreas do cérebro. Gera processos intensos de retenção e associação a outras memórias que definem o aprendizado", explica o coordenador do curso de Psicologia da PUCPR, Naim Akel Filho. Para o professor, o estudo reforça uma linha de pesquisas da neurociência que aponta para esse sentido.

Comparação

O experimento observou que o grupo que usou caneta registrou de 100 a 150 palavras a menos em relação aos que digitaram. Isso mostra que o teclado é "dominado" com maior facilidade que uma esferográfica, o que faz com que alguns pontos importantes sejam destacados por aqueles que escrevem, enquanto a maioria que digita acaba transcrevendo o que é dito.

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"A anotação é de extrema importância. O aluno consegue fazer uma síntese do que entendeu do conteúdo passado pelo professor", afirma a coordenadora do curso Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná, Maria Iolanda Fontana.

Luiza Ribeiro, aluna do último ano de Letras da PUCPR, é da turma que anota tudo no caderno. "Não levo o computador. Prefiro copiar fazendo flechas, asteriscos, destacando palavras-chaves e o que elas significam", diz. Segundo Maria Iolanda, a assimilação é colocada em prática durante a escrita, já que estimula o aluno a abreviar palavras e elaborar esquemas de anotações.

Isso pode explicar o pior desempenho do grupo digital. Mesmo com mais informações registradas, enquanto tentam reconstruir o contexto de palavras transcritas, os alunos do outro grupo fazem uma releitura do conteúdo adquirido.