Não é preciso sair da faculdade e ingressar no mercado de trabalho para enfrentar um ambiente competitivo. Salas de aula de muitos cursos de graduação podem ter esse perfil. Colegas disputam a maior nota da turma e elaboram estratégias para garantir o melhor estágio, uma vaga de monitoria ou uma bolsa em projeto de iniciação científica. Tudo isso parece fundamental para que o estudante tenha uma carreira promissora, mas os educadores dizem que ser o melhor não é garantia de sucesso profissional.
Pelo contrário, há uma tendência entre os acadêmicos de acreditar que nota alta é a porta de entrada para bons empregos e que, para isso, é preciso ser melhor que os colegas. Basta encerrar um período letivo, época em que saem as médias finais das disciplinas, para começarem as disputas. A competitividade acaba sendo estimulada por algumas universidades e faculdades, que usam a nota como critério de seleção para monitoria, grupo de pesquisa ou disciplinas optativas aquelas que têm vagas restritas e são complementares à grade curricular oficial.
Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), por exemplo, o primeiro lugar de cada curso, no dia da formatura, recebe o Prêmio Marcelino Champagnat, que garante uma bolsa integral de mestrado na instituição.
"Ser bom aluno é importante, mas nem sempre é esse que vai ter sucesso. Geralmente, o estudante mais interessado não tem outras características que as empresas procuram, como sociabilidade e jogo de cintura", diz o chefe do Departamento de Propedêutica do Direito do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), Cássio Marcelo Mochi. Segundo ele, esses alunos tendem a seguir a carreira acadêmica como professor e pesquisador.
Vantagens
Entretanto, a competição pode ser vantajosa para o estudante, desde que ela ocorra com moderação, para não provocar desvio de comportamento e sentimentos, como a ansiedade. Mochi diz que também é preciso fiscalizar os alunos, pois, às vezes, o aluno muito competitivo pode ser vítima de bullying.
Do ponto de vista pedagógico, o professor de Psicologia da Educação Américo Agostinho Walger, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a competição é positiva por estimular os alunos a superarem seus próprios limites. "Eu acho muito saudável. É um estímulo para estudar mais", comenta.
Sem concorrência
A estudante de Direito Carlúcia Muziol, 25 anos, está na segunda graduação. Hoje ela sente que seus colegas são menos competitivos do que os jovens com quem estudou Medicina Veterinária, o primeiro curso. "Lá era terrível. Se você faltasse um dia, por exemplo, ninguém te emprestava o caderno depois. Hoje vejo que meus colegas são mais tranquilos. Se preocupam com nota, mas não é um ambiente altamente competitivo."
Para ela, nota não significa muita coisa e a competição não leva a lugar algum. Pelo contrário, quando não há muita concorrência, o ambiente fica mais tranquilo e agradável para estudar. "Acho que temos de concorrer com nós mesmos, tentar se superar e não querer ser melhor que os colegas", diz Carlúcia, no centro à direita, na foto, acompanhada dos colegas Ariana Coelho, Natália Fernandes, Henrique Lima e Elisa Reuter.
Mais competitivos
De acordo com o professor de Psicologia da Educação Américo Agostinho Walger, da UFPR, algumas graduações têm a tendência de concentrarem alunos mais competitivos. Geralmente, são os cursos mais tradicionais e concorridos, como Medicina e Direito, que acabam por selecionar justamente aquele estudante que tem um histórico de maior dedicação.
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