João Guilherme não pôde pleitear vaga pelo Sisu porque ficou sem nota do Enem| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Relembre

Diversos problemas tumultuaram a aplicação do Enem e as inscrições ao Sisu:

6/11/2010 – No primeiro dia do Enem, a prova amarela apresenta problemas de impressão. O segundo dia de provas transcorre sem graves problemas.

15/12/2010 – 9,5 mil estudantes refazem as provas que tiveram problemas de impressão.

14/01/2011 – Resultado do Enem é divulgado e tem mais de 6 mil candidatos desclassificados.

16/01/ 2011 – No primeiro dia de inscrições ao Sisu, estudantes não conseguem acesso à página do sistema.

17/01/ 2011 – Dificuldades de acesso e falhas no carregamento no site do Sisu continuam. Estudantes denunciam o vazamento de dados dos concorrentes. Uma decisão judicial obriga o MEC a prorrogar por mais dois dias o período de inscrições, até dia 20 de janeiro. O presidente do Inep José Joaquim Soares Neto é exonerado do cargo. Em seu lugar assume a então reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni­Rio), Malvina Tânia Tuttman.

18/01/ 2011 – O coordenador-geral de Infraestrutura da Diretoria de Tecnologia da Informação do Ministério da Educação (MEC), Cláudio Crossetti Dutra, também deixa o cargo.

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A divulgação da primeira chamada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), agendada para a próxima segunda-feira, corre o risco de ser mais um capítulo de um tumultuado processo de seleção e distribuição de vagas no ensino superior brasileiro. Desde a aplicação da prova do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que serve de critério para classificação no Sisu, foram registrados problemas que podem afetar a credibilidade da proposta do governo federal de democratizar o acesso à universidade pública. A sucessão de panes no sistema já levou à substituição do presidente do Insti­tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e do coordenador-geral de In­­fra­­estrutura da Diretoria de Tecno­logia de Informação do Minis­tério da Educação (MEC) em menos de uma semana.

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Os problemas desta edição começaram ainda na aplicação das provas do Enem, em novembro de 2010. Falhas na montagem das provas amarelas levaram à realização de novos exames para 9,5 mil estudantes de 17 estados, no dia 15 de dezembro. Na divulgação dos resultados, no dia 14 de janeiro, novo impasse: 6 mil estudantes foram desclassificados. De acordo com o Inep, os candidatos marcaram errado o tipo de prova. A justificativa é contestada pelos alunos prejudicados.

Com as notas do Enem em mãos, os estudantes interessados no Sisu partiram para as inscrições no site do MEC, informando cursos superiores e instituições de ensino de interesse. Difi­cul­dades no acesso de dados e vazamento de informações provocaram nova pane no sistema. As graves ocorrências derrubaram o então presidente do Inep, José Joaquim Soares Neto. Ele foi substituído por Malvina Tânia Tuttman, ex-reitora da Universi­dade Federal do Rio de Janeiro.

Os percalços no processo levaram os estudantes prejudicados a acionar a Justiça para rever prazos e critérios de seleção. O Sisu foi prorrogado por dois dias. As inscrições no sistema puderam ser feitas até a última quinta-feira. No total, foram registradas 2,02 milhões candidaturas por 1,08 milhão de estudantes em todo o país. Mas uma série de decisões judiciais – liminares que garantiam mais prazo para estudantes fluminenses, acesso às notas do Enem e até um pedido de prorrogação de inscrições no Sisu para todo o país – antecipou o fim das férias do ministro da Educação, Fernando Haddad, que anunciou na sexta-feira uma auditoria interna para apurar as falhas. Todas as liminares foram suspensas pela Justiça.

Para alunos e professores, a sequência de problemas técnicos na aplicação das provas do Enem e nas inscrições ao Sisu comprometem a eficácia do processo de seleção que pretende valorizar os conhecimentos integrais dos alunos. Muitos candidatos que foram prejudicados contam que não acreditam em melhoras para o sistema nos próximos anos.

O estudante João Guilherme Baggio Lima, de 18 anos, teve as notas do Enem anuladas e não poderá ingressar em uma universidade neste ano. Aprovado em duas instituições particulares para o curso de Engenharia Mecânica, ele não tem condições de arcar com as mensalidades e a falta do Enem tirou suas chances de disputar uma vaga pelo Sisu na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). "Fico muito frustrado por me prejudicar por um erro que não foi meu", diz. Ele garante que preencheu corretamente os cartões-resposta do Enem.

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Para o diretor do curso Dom Bosco, Luiz Octávio Stocco, a proposta do sistema unificado de seleção é muito importante para a inclusão social no ensino superior. No entanto, ele lamenta as falhas que comprometem a legitimidade do processo. "O Enem é um exame que veio pra ficar, mas o sistema de avaliação precisa ser aprimorado", diz. Para o professor do setor de educação da UFPR Odilon Nunes, a grande questão está na qualidade do ensino superior. "Nos desviamos do principal para lidarmos com o secundário, que é o mecanismo de acesso. Precisamos nos preocupar com uma educação superior de qualidade", alerta.