A revolta dos candidatos
Estudantes estão preocupados e indignados com os problemas do Enem 2010. Leia os depoimentos de quem foi prejudicado pelo erro
Candidatos usam lápis e relógio mesmo sem poder
Os problemas nos dois dias de aplicação do Enem não se restringiram à impressão. As medidas de segurança também variaram conforme os ficais e os locais de prova.
Após tentar minimizar os problemas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Ministério da Educação (MEC) afirmou ontem que pode aplicar um novo teste para os estudantes prejudicados pelos erros na folha de questões amarela. O Enem tem provas em quatro versões, de cores diferentes. O caderno amarelo foi o que apresentou o maior número de problemas. Ele trazia folhas da prova branca encartadas erroneamente e, por esse motivo, faltavam questões. Havia perguntas repetidas com numerações iguais e perguntas iguais com numerações diferentes. De acordo com dados preliminares do MEC, cerca de 1% das provas tinha esses erros, o que significa que 20 mil estudantes, aproximadamente, foram afetados.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as provas com problema deveriam ter sido substituídas em sala. "Em algumas provas amarelas parece que tinha uma página duplicada, com conteúdo de outro caderno. O que fizemos imediatamente? Orientamos os fiscais a trocarem prova", afirmou o presidente do órgão. Porém, as orientações aos alunos variaram de sala para sala. "Na minha sala as provas amarelas que estavam com questões faltando e com questões repetidas, como a minha, foram trocadas. Na sala de uma amiga minha os fiscais disseram pra quem tinha a prova amarela deixar as questões em branco no gabarito, e na de outra amiga falaram pra marcar qualquer coisa", disse Bruna Kshesek.
Ontem, Soares Neto disse que o Inep ainda vai verificar o procedimento que deve ser adotado nesses casos. Mas ele não descartou a possibilidade de aplicar uma nova prova para os alunos prejudicados. O Inep disse que vai entrar em contato com todos os estudantes que tiveram problema na folha amarela, mas não detalhou de que forma vai encontrar os alunos. Uma das possibilidades, segundo o órgão, é verificar as atas de ocorrência das salas de prova.
Revoltado, o estudante Silvano Andrade, 35 anos, disse que pretende acionar a Justiça. "Na segunda-feira eu pretendo comunicar o Ministério Público Federal para entrar com uma ação para realizar uma nova prova." Ele não aceitou uma prova substituta, porque perderia mais tempo.
Abstenção
O Enem foi aplicado no sábado e no domingo em 1.698 cidades, nas 27 unidades da Federação. Nos dois dias do exame, a abstenção foi de 29,19% no Brasil e de 26,26% no Paraná. No sábado, dezenas de estudantes entraram em contato com a redação da Gazeta do Povo para reclamar de erros encontrados nas provas. No mesmo dia, o presidente do Inep confirmou que houve um problema nacional na impressão do cabeçalho do gabarito.
Soares Neto disse que soube do problema no sábado, por volta das 13 horas, horário de início das provas, e que os estudantes foram orientados a desconsiderar o cabeçalho do gabarito e a preencher as respostas na ordem em que apareciam nas provas. Mas, como nem todos os candidatos foram informados corretamente pelos fiscais, os alunos que preencheram o gabarito de forma errada poderão abrir um requerimento pela internet solicitando a revisão das suas notas. As reclamações devem ser feitas a partir da semana que vem (entre os dias 10 e 16 de novembro) no mesmo site usado pelos alunos para a inscrição no Enem (www.enem.inep.gov.br). O MEC informou que o Inep avaliará requerimento por requerimento.
O problema é que a inversão dos números das questões no cartão resposta foi apenas um dos erros encontrados pelos estudantes e talvez o mais fácil resolver, pois basta que a correção seja feita de forma invertida. Perguntas repetidas com numerações iguais, perguntas iguais com numerações diferentes e mesmo a falta de várias questões também deixaram os estudantes confusos. Os erros foram encontrados principalmente nas provas amarelas.
Segundo Soares Neto, os requerimentos pela internet devem ser feitos apenas pelos candidatos que tiveram problemas com a inversão das questões no gabarito e não por aqueles prejudicados pela prova amarela. O órgão vai abrir na quarta-feira (10) uma página na internet para reclamações de estudantes. O espaço funcionará até o dia 16.
Colaborou André Gonçalves, correspondente da Gazeta do Povo em Brasília e Bruna Bill.
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