Comparação
Além de Eles Não Usam Black-Tie, outra peça dramática compõe a lista da UFPR: Os Dois ou o Inglês Maquinista, de Luís Carlos Martins Pena. Enquanto a obra de Gianfrancesco Guarnieri se passa no Rio de Janeiro do século 20, em um núcleo familiar humilde, a narrativa de Martins Pena tem como protagonistas os membros de uma família abastada do século 19, também do Rio. "Se pegarmos essas relações imediatas, temos um bom critério de comparação em uma possível questão da Federal: uma questão que trabalhe o contexto sociocultural e político do século 19 em contraste com o do século 20", aposta o professor Marcelo Brum-Lemos.
Cinema
A peça tem uma adaptação cinematográfica, de 1981, com o próprio Gianfrancesco Guarnieri no papel do pai Otávio e Fernanda Montenegro no papel da mãe, mas pode não ser uma boa ideia assisti-lo durante os estudos. "O filme é muito bom, mas como estudo de vestibular, talvez seja melhor não assistir. Embora o enredo seja mais ou menos o mesmo, o contexto foi modificado, brilhantemente modificado, mas pode atrapalhar", alerta Brum-Lemos. O filme, dirigido por Leon Hirszman, preserva a história da família, mas transpõe o contexto histórico para a ditadura militar, o que pode confundir o estudante na hora da prova.
Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, é uma obra dramática, cuja temática principal é atual e justifica a sua entrada na lista de obras exigidas no vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a partir deste ano. A peça gira em torno de uma família operária do Rio de Janeiro, em meados do século 20, envolvida em um movimento grevista.
A obra tem uma estrutura simples: dividida em três atos, é de rápida compreensão e não é muito metafórica. "É uma peça que trata da realidade imediata desse grupo de personagens", conta o professor de Literatura do Colégio Bom Jesus Marcelo Brum-Lemos.
A família protagonista da história é composta pelo casal Otávio e Romana e pelos filhos Tião e Chiquinho. O pai e o filho mais velho, Tião, trabalham em uma fábrica de lã. Engajado com o movimento grevista, que reivindica melhores salários e condições de trabalho para sua classe, Otávio entra em confronto com o filho, que, apesar de reconhecer o direito de greve, discorda do movimento e tem medo de suas consequências.
Para o professor Brum-Lemos, toda a peça se estrutura na tensão existente entre o que o filho e o pai representam. Suas visões de mundo, divergentes, retratam o interesse individual versus o interesse coletivo. Enquanto o pai é preocupado com o bem-estar de toda a classe de trabalhadores, o filho preocupa-se apenas com a sua família.
Outros pontos
Além do tema atual e da rivalidade entre o interesse coletivo e o individual, o professor Marcelo Brum-Lemos chama atenção para outro aspecto da obra. O violeiro Juvêncio, que dá a trilha sonora da peça, é inspirado no cantor e compositor Adoniram Barbosa, que ficou famoso por composições que usam uma linguagem mais popular, com português "errado", como a usada na peça de Guarnieri. O próprio nome da obra é inspirado na música Nóis Não Usa os Bleque Tai, de Adoniram.
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