Uma história de percalços
Os dez meses em que o coronel Marcos Scheremeta ficou à frente da PM no Paraná foram bastante conturbados. Confira:
Passado
Scheremeta assumiu trazendo consigo uma condenação por liberar irregularmente um veículo apreendido em uma operação policial, quando era subcomandante em Foz do Iguaçu.
Família
Nomeou o próprio irmão, Carlos Alexandre Scheremeta, para ser corregedor da PM.
Conflito com o MP
Determinou o retorno dos policiais militares dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual (MP). Acabou concordando com a cessão de PMs, mas substituiu os oficiais.
Ponto final
Extinguiu o grupo Força Samurai, responsável por diversas investigações, em parceria com o MP, sobre tráfico de drogas.
Sem sucesso
Não conseguiu reduzir os altos índices de criminalidade no estado.
Jogo do bicho
Assistiu a Polícia Federal realizar uma operação de combate ao jogo do bicho, que deve ser reprimido pelas forças estaduais de segurança.
SAS
Discordou da decisão do governador Beto Richa de transferir ao Hospital da Polícia Militar o atendimento ao funcionalismo público estadual de Curitiba e região, desassistido com o fim do convênio do Sistema de Atendimento à Saúde (SAS) com dois hospitais da capital.
Envolvidos
Foi surpreendido por mais uma operação da Polícia Federal que deu um duro golpe na corporação ao prender 23 policiais militares supostamente envolvidos com quadrilhas de contrabando de cigarros e agrotóxicos.
Contrariado
Não teria concordado com a ordem do governador de promover dois oficiais.
O coronel Marcos Teodoro Scheremeta concedeu entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (25) para explicar os motivos que o levaram a deixar o comando da Polícia Militar do Paraná (PM-PR). Segundo o coronel, a saída foi motivada por "desgastes pessoais" entre ele e o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César. Scheremeta chegou a chorar na coletiva ao descrever a forma como ficou sabendo da troca do comando.
Durante a coletiva, o comandante demitido da Polícia Militar se despediu da chefia da corporação com o que classificou de uma "revelação": ele admitiu manter relacionamento com gerentes do jogo do bicho e da chamada máfia dos caça-níqueis. Magoado, o coronel afirmou que foi exonerado do cargo não por questões pessoais, mas por "desgastes" no relacionamento com o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César.
Scheremeta mencionou que o seu pai já falecido foi gerente de casas lotéricas e que "trabalhava" com jogos de azar. O coronel assumiu que, por conta disso, até hoje mantém relacionamento com pessoas que gerenciariam o jogo do bicho e manteriam esquemas com máquinas de caça-níqueis. "Eu conheço amigos de meu pai que até hoje trabalham [com jogo do bicho e caça-níqueis]. Eu converso com eles por telefone, me encontro com eles. Eu avisei que determinei todo rigor em tudo [nas investigações sobre as contravenções]", afirmou.
O coronel admitiu o relacionamento com a contravenção por conta de uma reportagem que seria preparada pelo programa Fantástico, da Rede Globo. A matéria estaria embasada pela existência de um suposto vídeo, que mostraria Scheremeta almoçando com os contraventores.
Desgaste
Por cerca de uma hora, o coronel falou à imprensa no auditório do quartel da PM, em Curitiba. Segundo Scheremeta, o desgaste com o secretário ocorreu por diversos fatores. Entre os principais está a polêmica envolvendo a transferência do atendimento aos segurados do Serviço de Atendimento à Saúde (SAS) de Curitiba e região metropolitana para o Hospital da Polícia Militar (HPM). O SAS oferece atendimento aos servidores públicos do estado e, anteriormente, era o Hospital São Vicente que prestava o atendimento.
O comandante disse que não era contrário à decisão de o hospital receber outros servidores públicos, mas afirma que não foi consultado sobre a mudança. Segundo Scheremeta, a alteração ocorreu enquanto ele estava em férias e foi apenas comunicada no seu retorno.
Outro problema foram as notícias com denúncias envolvendo o nome dele divulgadas na imprensa desde quando assumiu o cargo. O comandante afirma que todas as afirmações feitas contra ele foram rebatidas.
Durante a coletiva, o comandante que será substituído pelo coronel Roberson Bondaruk, chegou a se emocionar ao relatar a forma como ficou sabendo que estava deixando o cargo. Scheremeta estava em Foz do Iguaçu, nesta quinta-feira (24), para compromissos oficiais ao lado do governador Beto Richa (PSDB) e do secretário Reinaldo de Almeida César.
Assim que a notícia começou a ser veiculada na imprensa, familiares entraram em contato pelo celular para perguntar se ele estava realmente deixando a corporação. O comandante afirmou que achou "uma falta de consideração" a forma como foi tratado e garantiu que não sabia da troca de comando.
Marcos Scheremeta é cotado para posto na Casa Militar
O coronel Marcos Theodoro Scheremeta, 48 anos, assumiu o comando da PM prometendo reverter o quadro caótico da segurança pública paranaense. Sem chegar ao objetivo, deixa o posto e ainda sem ter uma nova designação. Nos bastidores, a informação é de que ele pode ser destinado à Casa Militar, responsável pela segurança do governador, com status de secretário e conselheiro ocupando, portanto, ainda uma posição de prestígio.
Bacharel em Direito e especialista em Administração Policial e Estratégias de segurança, Scheremeta é um oficial experiente. Ele passou pela chefia da seção de Planejamento e Operações do Comando da Capital, pela 3ª Seção do Estado-Maior e foi comandante do 17º Batalhão de São José dos Pinhais e do 1º Comando Regional da PM.
Mas foi no subcomando do 14º Batalhão em Foz do Iguaçu que ocorreu um dos fatos mais negativos de sua carreira. Lá, foi acusado de liberar uma Kombi em situação irregular apreendida em uma abordagem policial. Scheremeta foi processado por improbidade administrativa e condenado na 3ª Vara Cível de Foz do Iguaçu em primeiro grau a pagar uma multa de duas vezes o valor da sua remuneração, acrescida da correção monetária.
A defesa do coronel alegou inocência e afirmou que a Kombi foi liberada para não atrapalhar uma investigação sobre tráfico de drogas envolvendo o mesmo modelo do veículo apreendido. A defesa ingressou com um recurso no Tribunal de Justiça (TJ). Na segunda-feira (21), o processo foi encaminhado ao TJ para ser analisado.
Corregedoria
Outro episódio negativo dentro da corporação foi a nomeação do próprio irmão, Carlos Alexandre Scheremeta, como corregedor da PM. Possivelmente, de acordo com alguns policiais, Carlos também deixará o cargo.
Substituto
O coronel Bondaruk, que vai assumir o comando geral da PM é referência em segurança pública. Atualmente, ele está à frente do Departamento de Relações Institucionais da Coordenação de Segurança Comunitária da Sesp, mas já comandou a Academia Militar do Guatupê, onde são formados os novos oficiais da corporação. Bondaruk também é pesquisador e autor de sete livros, entre eles o Geografia do Crime.