Tragédias envolvendo crianças e mulheres chocaram e comoveram o país em 2008. A morte da menina Isabella Nardoni, 5 anos, atirada da janela de um apartamento em São Paulo no dia 29 de março foi o primeiro caso a ter grande repercussão nacional. A tragédia ganhou espaço nas primeiras páginas dos jornais e provocou verdadeira comoção pública após a polícia anunciar que os principais suspeitos pela morte da criança são o pai e a madrasta.
Outra criança vitimada pela violência foi João Roberto, 3 anos, assassinado em uma troca de tiros no Rio de Janeiro. Em Goiás, uma empresária foi condenada a 14 anos de prisão após torturar uma estudante de 12 anos que vivia em sua casa. No Paraná, Amanda Orbach Pereira, 2 anos, foi espancada e morta pelo padrasto, na presença da mãe, por ter chorado depois do banho. Maus-tratos também foram registrados, uma mãe acorrentou a filha de 13 anos pelos tornozelos e a deixou presa dentro de casa por cinco dias. Também mobilizada estava uma menina de 11 anos, encontrada nua e amordaçada no banheiro de um bar em Paranaguá, no litoral. Ela estava brincando em uma rua próxima à sua casa quando foi capturada e sofreu tentativas de estupro.
Outros casos de violência sexual também tiveram destaque na imprensa, como os da menina Rachel Genofre, 9 anos, estuprada e encontrada morta em uma mala na Rodoferroviária de Curitiba, e de Lavínia Rabech da Rosa, também 9 anos, estuprada e morta por um amigo da família. No município de Castro, na Região dos Campos Gerais, Alessandra Subtil Betim, 8 anos, foi morta após ser estuprada. Ela foi encontrada em um terreno baldio próximo à sua casa.
A seqüência de mortes de crianças que sofreram abusos levou o poder público a discutir formas de intensificar o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. Em Brasília, o presidente Lula sancionou lei que aumenta as penas para quem cometer esse tipo de crime. No Paraná, onde estatísticas revelaram que a cada seis horas uma criança é vítima de violência sexual, foi anunciada a criação de um banco de DNA para armazenar dados de criminosos envolvidos com pedofilia.
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Mídia é refém das estatístiscas e do silêncio das vítimas
Por Mauri König, jornalista da Gazeta do Povo
Ainda que recorrente no noticiário, a cobertura de crimes sexuais contra criança e adolescente é das mais difíceis do ofício jornalístico, dada as características da vítima e do agressor, do ambiente em que se dá o crime e do tabu em relação ao tema. Seis entre 10 casos ocorrem dentro de casa, em país rico ou pobre, em favela ou condomínio de luxo. Daí uma das razões para o silêncio em torno do assunto, espinhoso para os adultos, traumático para as crianças.
O desafio da mídia é descortiná-lo sem julgar o agressor nem expor a vítima. Em geral, tornamo-nos reféns de estatísticas parciais e estimadas, que se esgotam tão logo publicadas. A denúncia é a ação inicial capaz de romper o ciclo de violência, mas quantos outros casos estão escondidos detrás do silêncio constrangido das vítimas e parentes?
Nesses vazios informativos, a imprensa não deve se prender ao factual de um caso aqui, outro ali. A impunidade em casos como o de Rachel Genofre pode alimentar não só as pautas jornalísticas, mas a indignação coletiva. Foi assim que a imprensa pôs o assunto na agenda nacional a partir da morte de Araceli Cabrera Sanches, estuprada e morta aos 8 anos de idade por membros de uma tradicional família de Vitória (ES), em 1973.
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