O robô humanoide Sophia simula mais de 60 expressões faciais diferentes, localiza e reconhece rostos, olha nos olhos das pessoas e mantém conversações naturais. | Bigstock
O robô humanoide Sophia simula mais de 60 expressões faciais diferentes, localiza e reconhece rostos, olha nos olhos das pessoas e mantém conversações naturais.| Foto: Bigstock

Ross é um advogado que conquistou uma posição de destaque no escritório Baker & Hostetler, um dos maiores e mais conceituados de Nova York. Hal é um paciente pediátrico que auxilia no treinamento de profissionais de saúde que precisam desenvolver habilidades em diversas áreas clínicas. Miquela Sousa e Shudu Gram são influenciadoras digitais com milhares de seguidores no Instagram. Vector será capaz de perceber o estado de ânimo e humor dos humanos da residência para saber como interagir de forma adequada. Em comum, os cinco personagens são fruto de recursos avançados da tecnologia, como a inteligência artificial, a robótica e a modelagem em 3D. Para muitos profissionais, essas novidades podem representar uma ameaça de mercado. Para outros, uma ferramenta a mais para incrementar o trabalho. 

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O gerente Thiago Gaudêncio, da consultoria global de recrutamento executivo Michael Page para o mercado do Paraná, afirma que já é possível ter certeza de que as profissões ligadas às tarefas repetitivas, de baixa exigência criativa e pouca complexidade certamente serão substituídas por computadores ou outras máquinas. Entretanto, nas áreas mais especializadas Gaudêncio vê a presença do profissional como indispensável. E cita como exemplo a Medicina. “Pensando em algo mais raro, uma disfunção ou uma epidemia que surpreende, uma questão de saúde que envolva não apenas leitura de dados e interpretação de sintomas, mas sensibilidade, subjetividade e atuação baseada na compreensão dos sentimentos humanos. Quando isso ocorre, ainda não sabemos se a inteligência artificial poderá atuar”, analisa. 

Para Gaudêncio, o grande diferencial do profissional será em habilidades que a máquina é incapaz de dominar, como pensamento artístico, inteligência emocional, consciência corporal e capacidade de relacionamento. “Tudo o que a tecnologia não poderá oferecer”, comenta. 

É o que confirma o médico Gustavo Justo Schulz, cirurgião do aparelho digestivo e superintendente médico do Hospital Vita Batel. Para ele, a principal conquista é para o paciente, que consegue ter resultados cada vez melhores a partir de técnicas menos invasivas, além de menos dor, recuperação mais rápida e longevidade maior e com qualidade. “Nada substituirá a presença do médico, o toque. Ainda sou do tempo em que se prefere o high touch ao high tech. Mais conversa e mais toque, sem abrir mão dos avanços tecnológicos que verdadeiramente beneficiem os pacientes”, enfatiza. 

Schulz diz que o avanço tecnológico na Medicina tem mudado profundamente a ideia de que a especialização era terminativa e feito com que os cirurgiões busquem treinamento constante para acompanhar as tendências e novidades do mercado de trabalho. O cirurgião cita exemplos que já são realidade, como a forma de aquisição das imagens e a maneira de operar, uma vez que o robô torna os movimentos mais delicados, abolindo o tremor e aumentando a previsão. 

Recursos usados com inteligência 

A vice-diretora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Maria Candida do Amaral Kroetz, que é doutora em Direito e professora de Direito Civil na instituição, destaca que além do advogado-robô Ross, outras experiências tecnológicas baseadas no “machine learning” – a máquina que aprende constantemente – estão sendo desenvolvidas para auxiliar os profissionais da área do Direito.  

Para Maria Candida, as novas tecnologias impactam as profissões da área jurídica, mas não as ameaçam. Segundo ela, com esses novos recursos, atividades menos complexas e que hoje demandam tempo dos profissionais poderão ser realizadas de forma mais rápida, barata e eficiente pelas máquinas. 

No Direito, a professora cita algumas áreas que vêm crescendo e exigindo a formação de profissionais especializados, como os meios alternativos de resolução de disputas, como a mediação e arbitragem, as transações internacionais, popularizadas pelo e-commerce, que exigem decisões rápidas e julgadores com conhecimentos específicos. Maria Candida destaca também os segmentos relativos a petróleo, gás e energia, em função da importância na economia mundial, e a área do Direito Digital e suas vertentes, como segurança da informação, proteção de dados, registro de marcas, identificação de autoria, contratos digitais, remoção de conteúdo na internet e cyberresponsabilidade. “Devido à velocidade dos avanços tecnológicos, este ramo está sujeito a constantes mudanças e tende a se expandir juntamente com o próprio universo digital”, enfatiza. 

Personagens da vida virtual 

Hal 

Foto: Divulgação

O HAL® S2225 é um robô de aproximadamente 5 anos, na verdade um simulador de pacientes pediátricos produzido pela Gaumard Scientific, integrante de toda uma família de robôs criados para treinamento de profissionais de saúde. O humanoide é capaz de simular emoções realistas através de expressões faciais dinâmicas, movimento e fala. Além das expressões faciais, o robô sangra, urina, geme e até treme ao sofrer uma convulsão. A exemplo de crianças nessa faixa etária, Hal chama pelos pais e até evita que médicos e enfermeiros toquem nele, para mostrar como lidar com pacientes relutantes. 

Ross 

Ross é o primeiro advogado criado por inteligência artificial. Em novembro de 2017, Ross conseguiu uma vaga no escritório Baker & Hostetler, um dos maiores dos EUA, e que emprega cerca de 50 advogados humanos apenas na área de falência. A plataforma Ross foi construída a partir do computador Watson, da IBM. Ele é projetado para entender a linguagem humana, fornecer respostas a perguntas, formular hipóteses e monitorar desenvolvimentos no sistema legal. Dentro do escritório, seu papel é o de um pesquisador jurídico, que normalmente seria desempenhado por um advogado em início de carreira. Ele é encarregado de examinar documentos para reforçar os casos da empresa. O Brasil também já tem o seu advogado robô, trata-se do Eli, criado pela startup Tikal Tech, vem auxiliando na solução de casos e processos.  

Miquela e Shudu 

Foto: Reprodução

Miquela Sousa e Shudu Gram são duas influenciadoras digitais com milhares de seguidores no Instagram. Miquela tem 19 anos e agita o mundo da moda em Los Angeles. Costuma postar selfies com artistas e personagens da indústria da moda, além de diversos looks com roupas de grife. Mas seus cabelos castanhos e suas sardas são resultado de uma imagem gerada por computador pela empresa norte-americana Brud. O caso é similar ao de Shudu Gram, modelo negra que foi criada pelo fotógrafo de beleza, moda e celebridades Cameron-James Wilson. Wilson a desenhou em um software de modelagem 3D e diz considerá-la “uma peça de arte”, “uma celebração virtual de belas mulheres de pele escura”. A imagem de Shudu viralizou na rede depois que a cantora Rihanna postou uma de suas fotos, onde Shudu usava um batom da Fenty Beauty – a marca de maquiagem de propriedade da superstar.  

Vector 

Foto: Divulgação

A Anki anunciou para outubro de 2018, nos Estados Unidos, o lançamento de Vector, um pequeno robô doméstico que, segundo a empresa, pode ver, ouvir, sentir e interagir naturalmente com o mundo ao seu redor. Ele chega com o objetivo de se tornar um importante acessório da casa ou, quem sabe, até mesmo um integrante da família. Com olhos grandes e expressivos, Vector terá múltiplas funções, desde informar previamente as condições do tempo, tirar fotos, além de inúmeras outras atividades cotidianas. Vector também é capaz de perceber as reações emocionais dos seus humanos, inclusive para auxiliá-los.