Franciele Salmoria, gerente de vendas, recebeu a medula de uma de suas irmãs. Conhecida pela campanha de doação chamada “A menina na Janela”, Franciele soube do câncer na véspera de Natal, dia 24 de dezembro, após exames de sangue. O tratamento começou logo em seguida, com quimioterapia, ao longo de seis meses. Apesar da regressão, o câncer voltou com força assim que a quimioterapia terminou e veio o diagnóstico de um transplante.
Durante o tempo que ficou internada, Franciele conheceu o Marquinhos Ferreira, da campanha “Foco, força e fé”. “Reunimos nossas campanhas e fundamos uma Ong, chamada Instituto União Traz a Cura. Faço palestras e encontros para conscientizar sobre a importância de doar e, também, de cuidar da própria saúde para se tornar um bom doador de medula”, conta Franciele, que hoje se dedica a ajudar as pessoas, levar a mensagem da superação e de busca pela saúde. “A vida de alguém pode estar no seu sangue. E não é só para a leucemia, mas para várias doenças diferentes. É gratuito, não custa nada e salva vidas. Lembro que cada vez que eu recebia uma bolsa de sangue, isso me dava uma injeção de ânimo, era como um presente”, conta animada.
Doações em todos os lugares
Para ser doador de sangue e medula voluntário é necessário ter entre 18 e 55 anos, estar com bom estado geral de saúde, não ter doença infecciosa ou incapacitante, nem doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico. Basta comparecer a um banco de sangue e manifestar o seu desejo de ser um doador.
Para o cadastro de medula, será retirada uma pequena quantidade de sangue (10ml) do candidato a doador. O sangue será analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório para identificar suas características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade.
E foi essa compatibilidade que salvou a vida de Samuel e Maria Paula, os filhos gêmeos da veterinária Maica Leão. A família levou seis anos tentando descobrir porque as crianças nunca se recuperavam de infecções e viroses, tinham feridas pelo corpo e estavam sempre debilitados. “Sabíamos que havia algo errado, mas não tínhamos respostas para o motivo de tantas infecções. Depois de muitas buscas, conhecemos uma médica de Curitiba, que é do Hospital Nossa Senhora das Graças e passava férias em Salvador, onde moramos. Ela avaliou meus filhos e lembrou de um caso parecido em Curitiba, em que a criança tem uma imunodeficiência rara, que é a ausência de um gene chamado DOC 8”, conta Maica.
A única opção de cura era o transplante de medula óssea. Felizmente a família encontrou os dois doadores: um nos EUA e outro em São Paulo. O transplante foi feito ao mesmo tempo, algo desafiador para os pais, que se revezaram dia e noite no hospital cuidando dos gêmeos. “Meu marido e eu nos dedicamos integralmente às crianças. Foi muito delicado, eles tiveram dores, enjoos, fraqueza. Era como se tivessem chegado ao fundo do poço. Mas a emoção de ver a medula pegando não há como descrever. Todo esse processo foi como nascer de novo. Todo o sofrimento, as dores foram passando, as feridas fechando. Eu considero um verdadeiro renascimento”, conta Maica emocionada, que fez conseguiu, ainda conhecer os doadores pessoalmente. “O Samuel fala quase diariamente com o doador americano dele. Faz vídeos jogando futebol, um sonho que ele sempre teve. O doador da Maria Paula conheceu toda a nossa família aqui na Bahia. Formamos um laço muito forte de amizade”, comenta Maica.
Sobre o projeto The Hardest Run
O projeto The Hardest Run (Corrida Mais Difícil, em tradução livre) é uma iniciativa para reunir corredores de todos os tipos, amadores, profissionais e iniciantes para ajudar de alguma forma na doação de sangue e medula óssea, seja abastecendo o cadastro de doadores de medula, divulgando, doando sangue, mobilizando pessoas ou levando no peito o “red number”, número do cadastro da equipe. Tudo isso para aumentar as chances de encontrar um doador de medula óssea compatível que, de acordo com estatísticas, é de, pelo menos, 1 em 100.000 mil. “Em alguns casos, a chance é de 1 a 1 milhão”, conta Flaviano Feu Ventorim, diretor executivo do Hospital Nossa Senhora das Graças, que destaca, ainda, o fato do doador ideal (irmão compatível), estar presente em aproximadamente 25% das famílias brasileiras. “Os demais pacientes precisam de doadores alternativos, ou seja, familiares parcialmente compatíveis, bancos de cordão umbilical e doadores de medula voluntários. Por isso o cadastro, e mantê-lo atualizado, é tão importante”, completa o diretor.
E é aí que entra o The Hardest Run. O movimento pretende chamar atenção das pessoas em todo o mundo e aumentar, de forma significativa, o cadastro de doadores de medula. O embaixador dessa causa e corredor número #000.001, Marcelo Alves, conheceu essa necessidade por meio do vídeo Stronger, produzido pelo Hospital Nossa Senhora das Graças. Nesse vídeo, uma das personagens chamou a atenção pela força para vencer a corrida pela vida. A adolescente Kauanny Falavinha Sutil, que passou dez meses internada quando tinha apenas 12 anos e fez dois transplantes. O primeiro não deu certo e a única chance foi receber a medula da mãe, que tinha apenas 50% de compatibilidade, algo improvável de dar certo. Mas ela sobreviveu, hoje é integrante da equipe The Hardest Run e correu a prova de 5 km na Maratona de Curitiba.
A história da Kauanny, e dos demais participantes do vídeo, inspiraram Marcelo a se tornar doador de medula e ele passou a correr pela vida dessas pessoas ao descobrir que o cadastro é mundial. “Acompanhamos o Marcelo desde sua primeira maratona de extremo, quando tiramos do vídeo os dizeres para a sua bandeira feito pelos nossos pacientes para chamar a atenção da população sobre a doação de medula óssea. Ele, desde então, leva em cada corrida, um pouco de nós, um pouco de cada paciente. Isso só fez crescer o desejo de fazer ainda mais”, conta Flaviano Ventorim, que comemorou a iniciativa do projeto. “O The Hardest Run é uma forma de espalhar ao mundo a nossa bandeira, a bandeira da VIDA de cada paciente que enfrenta mais de 80 tipos de doenças que podem ser beneficiadas com o transplante. Ainda, além de engajar as pessoas para a causa formando uma rede de ajuda, auxilia famílias na renovação da esperança, fazendo-os sentirem acolhidos, por gestos profundos de amor de desconhecidos”, finaliza Ventorim.