Automobilismo x Corrida de Rua
A possibilidade de o Campeonato Mundial de Carros de Turismo (WTCC) trocar o Autódromo Internacional, em Pinhais, pelas ruas de Curitiba, mexeu com as comunidades de corredores de rua.
Pelo Orkut, participantes protestaram contra a iniciativa. "Se for autorizado este tipo de prova então teremos dois pesos e duas medidas. Corrida de rua e maratona em ruas do centro não pode. Motorista reclama que tranca tudo. Diretran não autoriza. Corrida de automóvel pode? Não tranca as ruas?", questiona Wolfgang Gaase Junior, participante da comunidade Corredores de Rua de Curitiba.
Adcley Souza seguiu o exemplo sugerido pela Gazeta do Povo, para o internauta desenhar possíveis trajetos da prova da WTCC, e fez um percurso de corrida de rua que não atrapalharia o fluxo de veículo na região central de Curitiba. Confira o percurso sugerido por Adcley clicando aqui.
O professor Tadeu Natálio, da Procorrer, acredita que há espaço para todos. "O automobilismo fomenta o turismo na cidade, tem muita gente que gosta. A mesma coisa acontece com a corrida", avalia.
As notícias de que provas já tradicionais podem deixar o circuito de rua curitibano, e outras sofrerão alterações, por causa do trânsito, gerou protesto dos praticantes da modalidade. A Corrida Noturna, organizada pela Unimed nos últimos cinco anos, que tradicionalmente era realizada no Alto da Rua XV, e passava pelo Cabral, Juvevê e Jardim Social, deverá ser transferida para o Campo Comprido. "Problema técnico" é a justificativa oficial da alteração. A prova deve acontecer em 23 de fevereiro.
De acordo com a Diretran-PR (Diretoria de Trânsito do Paraná) as corridas serão afastadas da região central da cidade para trazer mais segurança aos próprios corredores.
Porém, muitos participantes não concordam com a medida e estão preocupados com o possível esvaziamento de provas importantes no calendário nacional. "Curitiba tem sido preterida pela grande maioria destas organizações, aparentemente, por restrições impostas pelos órgãos públicos ligados a prefeitura municipal. Entre os motivos estariam: taxas cobradas para a liberação dos eventos fora da realidade (e com destinação questionável), restrições com relação a horário e local da realização dos eventos e uma possível dificuldade de manejar tais eventos simultaneamente com o trânsito de veículos na cidade. Esta última é totalmente questionável, haja vista que cidades com São Paulo, Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte, maiores que Curitiba, realizam eventos similares com freqüência", reclamou o corredor Adcley Souza.
A medida atingiu em cheio até mesmo as provas organizadas pela Secretaria de Esporte e Lazer de Curitiba (Smel). Todas as seis etapas, previstas para este ano, deverão acontecer em bairros, em um raio de cinco quilômetros do Centro. "A gente está discutindo onde as provas serão realizadas. No Centro, tivemos muitos problemas nos últimos anos. O número de participantes cresceu, o número de carros praticamente dobrou e o motorista não tem paciência", disse Rudimar Fedrigo, secretário de Esporte e Lazer da Prefeitura de Curitiba (Smel) em entrevista à Gazeta do Povo em janeiro - a Maratona de Curitiba, em novembro, não sofrerá mudança.
Também em janeiro, a Diretran deu sua versão a respeito do impasse. "As vias do anel central são evitadas, pois todo cruzamento semaforizado necessita da orientação de agentes de trânsito ou policiais do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar e isto ampliaria o efetivo necessário para o acompanhamento da prova", explicou Josiel Martins, da Unidade de Operação de Trânsito do Diretran, à Gazeta do Povo.
Provas ameaçadas
A tradicional corrida da Eco Run já não acontece há dois anos em Curitiba. A organização desistiu de trazer a prova devido ao alto custo para liberação do Parque Bacacheri. A Track & Field, realizada nos últimos dois anos da região central da cidade, também estaria ameaçada. Embora a organização confirme a etapa, no site oficial da corrida a prova de Curitiba passa batido. O motivo também seria a dificuldade em se conseguir liberação para a prova.
O Circuito das Estações (quatro provas realizadas pela Adidas) pode descartar a capital paranaense do projeto. "Curitiba está perdendo provas de glamour, grandes marcas deixando de querer organizar provas aqui. É um retrocesso para a cidade" avaliou o Leandro Alberto Hadlich, coordenador geral da HP Sports Assessoria Esportiva.
Motorista e corredor na mesma direção
Para ele, um das soluções seria ampliar campanhas educativas de trânsito para que os motoristas respeitem os corredores, e corredores respeitem os motoristas. Com base em exemplos de outras capitais brasileiras e grandes cidades do mundo, o professor Tadeu Natálio, manda uma sugestão mais arrojada para que as corridas não percam espaço nas ruas centrais de Curitiba. "Por que não fazemos como acontece no Rio de Janeiro. Lá eles fecham a Avenida Atlântica para os carros no domingo e você vê papagaio, cachorro e gente correndo e andando para todo o lado. Fora do Brasil o corredor é aplaudido quando passa na rua, aqui o corredor é marginalizado", diz o coordenador da Procorrer, que organiza corridas de rua.
Natálio cita o exemplo de São Paulo. Na capital paulista as corridas de rua seguem em processo inverso de desenvolvimento. "Lá eles tiraram um prova que era realizada dentro da Universidade de São Paulo e para fazer na região central. Assim, a prova ficou mais atrativa."
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