Área privilegiada para um futebolzinho no centro de Curitiba, o campo onde acontece o Campeonato Retrô começou a ser plantado há mais de 50 anos. Se hoje há empresas especializadas em vários tipos de grama, o professor Henrique Maurina, conhecido como Irmão Alfeu, ia buscar de Jipe as mudas em Campo Largo e plantava leiva por leiva com ajuda dos alunos do então Internato Paranaense.
O campo servia para distrair cerca de 390 internos do tradicional colégio. Sem muitas opções de lazer, o esporte ajudava a controlar hormônios de jovens enclausurados e promover o ensino através do esporte princípio defendido pelos maristas.
E ninguém melhor para essa missão do que o irmão Alfeu. Nascido no Rio Grande do Sul, veio para Curitiba em 1951. "O adolescente só escuta quem gosta de esporte, de conversar e de se divertir", conta o professor de biologia, hoje com 85 anos, que inventou uma maneira de descontrair os internos.
Na década de 50, ele decidiu convidar as equipes que vinham jogar em Curitiba para treinar no campo do colégio contra os garotos. Convite aceito, o religioso enchia três táxis com os atletas. Nesses carros andaram craques como Manga, Coutinho, Didi, Zagallo e até Pelé.
A quem duvida, ele mostra as assinaturas dos jogadores devidamente registradas em um dos 15 cadernos de recordação. Lá estão gravadas as visitas: Grêmio (3 vezes), Flamengo (4), Fluminense (3), Vasco (2) e Santos (2). Fora os times locais, adversários dos estudantes em jogos-treinos.
Mas o sparring era perigoso. Em 1953 por exemplo, ganhou 21 taças. "Vencemos todos", conta o irmão, que também se arriscava com a pelota. Jogava de batina e tudo como "centro-médio ao estilo Didi". Orgulho não é pecado.
Sua maior satisfação, entretanto, não é ter acolhido tantos ídolos, visitado o Papa João Paulo II duas vezes (lá estão as fotos nos cadernos), ou ter sido aluno, em Madrid, do Cardeal Ratzinger, hoje Bento XVI, a quem deve visitar em maio durante a visita papal ao Brasil.
Nas mãos enrugadas, mas ágeis, Alfeu não se cansa de enumerar os talentos formados no colégio, definido por ele como um "poço de sabedoria". "Por aqui passaram médicos, advogados, engenheiros, ministros, juízes e até presidente da República." Isso mesmo.
Jânio Quadros estudou no colégio e inclusive "foi convidado a procurar outra escola após ser descoberto fumando debaixo das cobertos", relembra o irmão. A punição não diminuiu seu carinho pela escola e como presidente chegou a visitar Alfeu em Curitiba.
As visitas são comuns. "Esses dias veio um aluno e levou um susto quando me viu, porque veio aqui procurar o meu túmulo", conta, e ri gostoso. Sabe o quanto a sua vitalidade impressiona. O segredo? "Ninguém envelhece quando se está perto da juventude." (ALM)
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