Entrevista
Guilherme Macuglia, técnico do Paraná
Qual foi a sua primeira impressão do grupo?
Eu sei que o momento traz uma certa desconfiança. Falei para os jogadores que o momento é difícil, mas é hora de muito trabalho. É o momento deles mostrarem personalidade. É hora de uma retomada.
O vice-presidente de futebol, Paulo César Silva, criticou muito os jogadores e falou em dispensas. Jogadores vão ser dispensados?
A ideia é que a gente se reúna com a diretoria e veja o que é o melhor para o time. O Paraná está convivendo com muitas lesões e suspensões e talvez teremos a necessidade de fazer algumas contratações.
Você chega ao Paraná com uma grande rejeição da torcida...
O torcedor quer ver resultado. Só com trabalho se ganha a confiança. A pressão é normal na nossa profissão. Espero que os torcedores confiem no meu trabalho, no grupo de jogadores e nos apoiem neste momento de dificuldade.
O Paraná vai brigar pelo G4?
Temos de pensar jogo a jogo. O primeiro passo é reverter este quadro negativo. Temos de trabalhar com confiança para tornar a equipe competitiva novamente. (CB)
Matemática
O Paraná praticamente deu adeus às chances de classificação à Série A. Distante nove pontos do G4, o time precisaria vencer todos os 8 jogos que fará em casa e ainda conquistar mais 5 pontos, em 21 disputados, fora da Vila para conseguir a vaga. Atualmente as chances do Tricolor terminar o campeonato no G4 são de 4%. Ao mesmo tempo, a equipe vê a turma de baixo da tabela se aproximar. O clube está a apenas 7 pontos da ZR. Para escapar da degola, precisa conquistar 16 dos 45 em disputa. O desempenho do time nos últimos onze jogos preocupa. Em 33 pontos, o Paraná fez apenas 8 24,4% de aproveitamento.
Guilherme Macuglia, 50 anos, assumiu ontem um time em declínio técnico, com desentendimentos internos e até cobranças de salários atrasados.
Conforme a Gazeta do Povo apurou, em meio à derrocada na tabela, alguns jogadores não estão recebendo em dia. Nos últimos dois meses, os atletas com as remunerações mais altas do elenco tiveram apenas 50% do valor desembolsado pela diretoria.
O período coincide com o início da instabilidade do time desde a vitória fora de casa contra o Criciúma, no dia 26 de julho, o Tricolor conquistou apenas 8 dos 33 pontos em disputa.
Na véspera da partida contra o Americana, no sábado, apenas parte dos jogadores embolsou o mês de agosto. Diversos boleiros disputaram a partida sem saber quando o pró-labore iria ser pago.
Apenas nesta segunda-feira o depósito foi feito pela diretoria. O fato teria gerado desconforto no vestiário antes da derrota para os paulistas.
Os jogadores confirmam a situação, mas preferem não polemizar devido ao mau momento da equipe. "Falar agora só prejudicaria ainda mais o grupo", comentou um dos líderes do elenco. O vice de finanças do clube, Celso Bittencourt, foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações.
Paulo César Silva, vice de futebol, falou sem convicção sobre a questão. "Só os que não foram relacionados para o jogo contra o Americana receberam após a partida. Desconheço se ocorreu de maneira diferente", explicou.
O dirigente também botou combustível na crise. Após a terceira derrota consecutiva, ante o Salgueiro, ele pediu para os insatisfeitos deixarem o clube e reforçou esse apelo ontem. "Vou fazer um relatório completo dos atletas. O técnico vai escolher aqueles que têm condição e comprometimento para continuar no Paraná".
O dirigente empurrou para os jogadores a responsabilidade pela retomada das vitórias. "O presidente, o diretor e o técnico não entram em campo", soltou.
Na outra via, novos reforços poderão ser contratados. "Precisamos de um meia e de um homem de referência no ataque. Estamos negociando com alguns nomes, vamos ver se conseguimos trazer alguns deles", seguiu Silva.
Alguns membros da organizada Fúria Independente foram até o treino de ontem cobrar o dirigente. Segundo ele, pediram a sua saída, a contratação de um funcionário remunerado para dirigir o futebol e exigiram um encontro com os jogadores.
Ex-treinador diz que time "é limitado"
Roberto Fonseca assinou ontem, no fim da tarde, a rescisão do seu contratado com o Paraná. Treinador do Tricolor nos últimos três meses, ele admitiu à Gazeta do Povo logo após se desligar oficialmente do clube que o grupo paranista não tem forças.
"O time é limitado. O grupo foi montado para ficar na parte intermediária da tabela. A diretoria não investiu em um time para subir", disse.
Ele preferiu não dar palpites sobre as recentes declarações do vice-presidente de futebol, Paulo César Silva. "Se eu tivesse algo a dizer ou fazer, faria enquanto estava no clube. O que acho é que há uma cobrança exagerada a um time que é comum".
Segundo o técnico, a torcida e a imprensa se empolgaram com os resultados iniciais. "Ficamos 14 rodadas no G4, além daquilo que poderíamos. Os primeiros jogos criaram essa superexpectativa, mas as lesões e os cartões nos colocaram no nosso lugar, que é brigar contra o rebaixamento", avaliou.
O treinador revelou não ter mágoas da cúpula tricolor, mas cobrou uma falta de autonomia para continuar. "A direção achou mais fácil tirar a comissão técnica. Faltou respaldo".
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