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Pessoas acostumadas a lesar os seus semelhantes logo se mostram iradas com verdades pronunciadas sob o argumento de que foram injuriadas, caluniadas e difamadas. Antes de morrer, o brasileiro José Alencar disse duas grandes verdades. "Não tenho medo do câncer. Tenho medo da desonra", e acrescentou que a falta de honradez mata em vida. É a morte moral, irreconciliável com a ética e os bons costumes, acrescento. Quem não sabe cultivar princípios sólidos de respeito ao próximo está ofendendo a dignidade da sociedade, individual e coletivamente. São os depredadores da justiça e da igualdade entre humanos que se confrontam todos os dias. Uns, lutam pela de­­cência. Outros, seguem pelo caminho da imoralidade, tiram vantagem pela prática de atos ofensivos à correta formação humana.

A outra verdade verbalizada por José Alencar, e que quero destacar, é a análise que fez certa vez dos juros altos praticados pelo sistema financeiro do país. "É um assalto." Uma coragem só autorizada pelo perfil de brasileiro comprometido com o povo, sem se engajar nas conveniências de grupos e pessoas.

Quando Alencar considerou um assalto a absurda taxa de juros, ferindo de forma sangrenta as parcas economias de cidadãos brasileiros, ninguém o processou e sequer pensou em fazê-lo. Duas citações lapidares do político mineiro.

Aqui, quando o jornalista fala verdades como as pronunciadas por José Alencar é logo processado, principalmente se os alvos são pessoas ligadas ao futebol, antro de muita gente sem caráter. Há poucos anos ousei dizer que o aumento no preço dos ingressos proposto pelos antigos dirigentes do Clube Atlético Paranaense era um assalto. Não faltou quem logo pedisse a gravação das palavras por mim proferidas e em seguida foi iniciado processo judicial contra este colunista. Não perdi a tranquilidade e na primeira audiência fui solicitado pelos autores, ex-dirigentes do Atlético, para me retratar. "Não tenho do que me retratar, disse uma verdade", falei à autoridade do Poder Judiciário, juíza da causa. O processo foi extinto por inconsistência da denúncia feita pelo autor da ação. Só este exemplo autoriza o colunista a reconhecer a autoridade do guerreiro José Alencar ao dizer verdades mesmo criticando homens públicos com os quais conviveu por dever de ofício.

Pelo seu perfil, Alencar lutou bravamente contra doença incurável, com energia e coragem, mas, ti­­nha medo da desonra, por não ad­­mitir destroçar seu caráter com atitudes excludentes da moralidade.

Se nada mais tivesse feito em sua vida vitoriosa, pelos pensamentos lapidares, transformados em frases que representam uma aula de civismo, José Alencar merece a nossa homenagem.

Post scriptum

Quantos políticos e desportistas do Brasil podem ter a grandeza de dizer o que disse o político que será sepultado hoje em Belo Horizonte? São tão poucos que sentimos vergonha de ser honestos, como falou Ruy Barbosa, dirigindo-se aos moços do seu tempo e de todos os dias de nossas vidas.

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