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Quando uma jovem promessa ou um excelente jogador passa a ser um craque? Não há regras nem exatas explicações. Futebol não tem manual.

Para alcançar e se manter no esplendor técnico e físico e se tornar uma estrela mundial, um atleta precisa atuar, por muitos anos, em um grande time, descobrir seu melhor lugar em campo e jogar em um ambiente profissional e prazeroso, onde se sinta cada dia com mais vontade de se superar.

Em qualquer atividade, não basta cumprir as obrigações e exigir os direitos. É necessário também criar laços afetivos com os companheiros, com o clube, com a empresa e com a cidade. Só assim, o profissional brilha intensamente.

Hoje, como os grandes atletas atuam em seus limites técnicos e físicos, são cada dia mais curtos os períodos de exuberância técnica. Os ídolos são também rapidamente consumidos e trocados.

Ronaldinho teve, contra o Manchester United, mais uma grande atuação. Mesmo jogando com muita vontade e com evidentes sinais de recuperação física, ele nunca vai jogar, no Milan, como fez no Barcelona. Os momentos, os times e as cidades são diferentes.

Ainda é cedo para dizer, mas não será surpresa, se Kaká não brilhar, no Real Madrid, como fez no Milan. Por ser alto, forte, disciplinado, aguerrido e se destacar mais pela técnica, Kaká se identifica mais com o futebol italiano. Os espanhóis adoram mais os craques clássicos, fantasistas e criativos, como Zidane e Ronaldinho.

Suponho que Maradona jogou tanto e com regularidade no Napoli, mais que em outros clubes fora da Argentina, porque se identificou com a anárquica cidade italiana. Sentiu-se em casa.

Rooney, só agora, atingiu o esplendor técnico. Se ele não tivesse jogado tanto tempo no Manchester United, em seu ambiente e em um time vencedor, não teria evoluído tanto.

Se o Santos, quando surgiu Robinho, fosse um dos grandes times do mundo, como era na década de 1960, Robinho não teria ido para a Europa e teria muito mais chance de evoluir e de se tornar um habitual candidato a melhor do mundo. Ele tem talento para isso.

Imagine se Pelé tivesse ido, no início de carreira, para o Manchester City. Seria o melhor do mundo, mas não seria tão extraordinário. Correria até risco de ser reserva de um mediano e aplicado jogador.

Só fui titular da seleção de 1970, um dos melhores times da história do futebol, porque joguei muitos anos no Cruzeiro, ao lado de jogadores brilhantes, como Dirceu Lopes, Zé Carlos, Evaldo, Piazza e outros.

Neymar vai se tornar um craque ou apenas um excelente jogador? Ainda não dá para saber. Vai depender muito do que encontrar pelo caminho.

Armando Nogueira me disse, em uma de nossas conversas, por telefone, sobre futebol, que as grandes promessas que não se tornaram estrelas já eram craques quando jovens e não deixaram de ser. Apenas não deram certo.

Na época, discordei do mestre. Hoje, o compreendo. Esses jovens não encontraram e/ou não buscaram as condições necessárias para mostrar e aprimorar seus talentos. Perderam-se no meio do caminho. No meio do caminho, existe a vida.

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