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Tarde de novembro, em 1968: em meio à repressão, Brasil jogava no Belfort Duarte (Couto Pereira) | Acervo Helênicos
Tarde de novembro, em 1968: em meio à repressão, Brasil jogava no Belfort Duarte (Couto Pereira)| Foto: Acervo Helênicos

O que acontecia na época

Em 1968 o Brasil vivia tempos sinistros. Vigorava o regime militar e, pouco tempo depois do amistoso festivo em Curitiba, realizado em novembro, a ditadura criou o Conselho Superior de Censura e o AI-5, norma de opressão à liberdade. Somente um entre tantos fatos num ano especial no mundo todo, marcado especialmente pela insatisfação juvenil diante do conservadorismo e da guerra americana no Vietnã.

Brasil e França se pegam hoje, às 16 horas, em Porto Alegre. Há quem garanta que o escrete canarinho não sacode mais o povão. Não foi o que constatei em uma semana na captura do Brasil, do Rio de Janeiro a Goiânia. Onde quer que a nave do selecionado tenha estacionado, o alvoroço foi tremendo.

Não é de hoje que a seleção é um fenômeno pop – aliás, desde sempre, praticamente. Mudam-se os costumes, os penteados, entram em cena as chamadas redes sociais, os "consultores de imagem", a mídia especializada, mas o rebuliço é semelhante, seja qual for a ocasião.

Prova disso foi a passagem do Brasil por Curitiba, em novembro 1968. Pela primeira vez desde que um índio desferiu um chute num coco (já trajando calção Adidas) e inventou todo esse teatro maravilhoso denominado futebol, a seleção brasileira desembarcava no Afonso Pena.

Sim, aquele conjunto capaz de feitos extraordinários, bicampeão mundial, estava reunido bem ali, comprando chocolatinhos na loja ao lado da escadaria do aeroporto de Curitiba, em São José dos Pinhais. E tinha um confronto agendado com o Coritiba. Sim, seleção e clube se estranhariam no então Belford Duarte, mais tarde Couto Pereira.

Motivo suficiente para os bancos cerrarem as portas na hora do almoço, ponto facultativo aos funcionários públicos, folga geral dos comerciários e, para quem era dono do próprio negócio, aquela enforcada bonita sem dor na consciência.

Afinal, que outra oportunidade para ver em ação Carlos Alberto, Rivelino, Gérson, Jairzinho, Tostão e... e... Pelé!? Isso mesmo, todos os gênios que em 1970 escandalizariam o planeta com o tricampeonato no México. Sem contar as feras do lado coritibano, como a trepidante dupla de ataque KK, Krüger e Kosilek.

Bola rolando (finalmente) e a rede não tardou a balançar. Dirceu Lopes, cracaço do Cruzeiro, venceu o goleiro Joel logo aos 12 minutos da etapa inicial.

Vinte minutos depois, veio o empate e gol isolado da representação local que, por um acerto de bastidores, teve de vestir o manto da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Passarinho, avante que desembarcou no Alto da Glória após vazar três vezes o Coxa com a camisa do Apucarana, não perdoou Félix: 1 a 1.

Igualdade que permaneceu até os 42 minutos. Foi quando Zé Carlos, da turma dos mineiros, que, substituindo Gérson – especula-se que o Canhotinha saiu para comprar cigarro e não voltou mais – anotou o gol da vitória canarinho: 2 a 1.

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