As excentricidades dominam o futebol brasileiro.
Quando não são jogadores desta geração endinheirada que exageram nas comemorações fora dos gramados, são declarações infelizes que chocam. Deixemos de lado os conflitos familiares embarcados em barracos armados recentemente.
Dentro de campo, o momento é de coreografar a festa do gol marcado, aproveitando a repercussão da exaustiva repetição das imagens na televisão.
Algumas coreografias merecem exame apurado, puxadas a ensaios nos treinos e nas concentrações. A alegria de um gol contagia todos, especialmente ser for um gol de bela feitura que signifique o coroamento de uma jogada bem trabalhada: o popular golaço.
Se no gramado os jogadores explodem de alegria, o panorama não é diferente nas arquibancadas, nas ruas ou mesmo em frente do televisor. O gol tem o poder de transformar todos em meninos.
Mas está havendo exagero nas comemorações.
As imitações de coelhos, porquinhos e outros animais caíram no lugar comum, tanto quanto o beijo na aliança, as juras de amor ou o incessante beijo no escudo do time pregado na camisa. A homenagem a pessoa amada é bonita, porém a tentativa de demonstrar amor eterno ao time, não resiste ao primeiro assédio de algum empresário com proposta melhor.
Agora a moda é dançar após o gol. Entre rebolados, remelexos e um pouco de ritual próprio de dança indígena, os jogadores estão mudando o ritmo da comemoração.
Antigamente a festa do gol era um ato do goleador, que extravasava o contentamento com gestos e gritos para, em seguida, ser abraçado pelos companheiros. Dos abraços pulou-se para a pirâmide e não demorou muito para as camisas serem arrancadas do corpo e arremessadas aos torcedores. Houve a intervenção oficial, proibindo-se tirar a camisa ou subir nos alambrados. A apresentação do cartão amarelo passou a ser obrigatória pelo árbitro ao atleta que ultrapassa os limites.
No meio dessa efusão está embutida a mágoa do jogador menos talentoso com aquele que apresenta repertório mais criativo, mais variado e que mexe muito mais com o sentimento do torcedor.
É o que se pode observar da dança dos jogadores do Palmeiras nos gols que derrotaram o Santos, o time da moda com seus meninos mágicos. Só que não dá para comparar a categoria técnica do genial Neymar com a do esforçado Armero. A celebração emocionada do gol é válida e necessária para alimentar a ilusão do futebol. Sendo um espetáculo lúdico, carregado de fortes emoções, o futebol precisa dessa coreografia para alegrar o torcedor.
O que atrapalha são os excessos, tanto que ficamos com saudades dos socos no ar nos gols de Pelé ou das caretas engraçadas de Lela. Eram manifestações sem combinações prévias, não continham mensagens cifradas e não requeriam ensaio. Eram espontâneas.
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