Tenho recebido algumas reclamações de leitores e torcedores por tratar pouco dos jogos do Campeonato Paranaense em andamento. Não só aceito os reclamos, como prometo escrever bastante sobre os nossos times quando eles voltarem a apresentar padrão futebolístico que mereça maior atenção. É praticamente impossível encontrar inspiração e argumento para analisar com razoável qualidade de texto uma coisa tão sem graça como os jogos deste campeonato.
Como é que se pode levar a sério um certame no qual um dos mais fortes e tradicionais participantes escala o time sub-23 para representá-lo, demonstrando flagrante desrespeito aos adversários, aos patrocinadores e aos seus próprios sócios e torcedores? Enfim, todos que sabem que esse é o único título realmente ao alcance do Atlético?
Como é que se pode levar a sério um campeonato no qual o diretor de árbitros ignora o seu representante na partida decisiva do turno, por ele ter enxergado os pênaltis que o senhor Afonso Vitor de Oliveira não viu, e o departamento continua com baixa reputação e sem um árbitro padrão Fifa?
Como é que se pode levar a sério um campeonato no qual o Paraná implora para a Federação adiar o jogo com o Atlético diante do péssimo estado do gramado da Vila Capanema?
Peço paciência aos caros leitores, mas vamos dar um tempo até que passe essa onda de absoluta mediocridade que tomou conta do futebol paranaense.
Os deuses do futebol recente inventaram uma dinastia de Ronaldos que se sucederam no posto de número 1 do mundo: Ronaldo Fenômeno; Ronaldinho Gaúcho e o craque português Cristiano Ronaldo. A coincidência dos nomes faz ver certa ironia à alternância de subidas e descidas, à gangorra cruel das ascensões e declínios, à constelação de sagração e desgraça com que o futebol dá um sabor mítico à concorrência desenfreada do capitalismo contemporâneo.
Enquanto as jogadas financeiras, as metas empresariais e os deslocamentos do capital são restritivos, implacáveis e impalpáveis ao alcance da maioria, o campo de futebol é a grande tela reconhecível em que a ação humana, o acaso e o destino contracenam de maneira lúdica e trágica, épica e dramática, cômica e lírica. Com todo o peso do mercado, nele é, ainda, a medida humana, coletiva e individual, física e mental, que testa seus limites, e é a performance visível, em jogo com os acasos do poder decisório e implacável do apito final, que dirá o que pode a sorte e o valor de cada um.
A dinastia de Ronaldos foi sucedida pelo pequenino argentino Lionel Messi, extraordinário artífice do futebol que tem nos brindado com jogadas espetaculares, confirmando que o futebol tem o poder de tornar verificáveis os valores e os méritos que a vida embaralha, confunde, oculta e perverte.