Existem certas coisas na vida que são possíveis. Outras que, de tão previsíveis, chegam com antecedência e seu acontecimento apenas ratifica a ideia inicial. Assim é o movimento para o retorno dos torneios regionais para poupar os principais times do sacrifício dos estaduais em decadência.
É uma pena que o futebol brasileiro tenha perdido a oportunidade de seguir a modernização europeia com a criação das Ligas, prejudicada há dez anos quando os dirigentes dos clubes submeteram-se aos desígnios do manda-chuva Ricardo Teixeira anulando a disputa pelo poder. Como a largada da tentativa de ingressar na modernidade foi queimada por jóqueis precipitados, agora eles tentam a recuperação no páreo procurando domar os animais.
O problema no Brasil é que todos acham que entendem de tudo e vão criando leis e decretos com espírito de Primeiro Mundo para a dura realidade de um país atrasado, especialmente no aspecto ético e cultural. Vejam, por exemplo, a Lei Seca uma norma que simplesmente nivelou todos os cidadãos por baixo. O cidadão responsável, que possui educação e tem consciência no trânsito, foi jogado no mesmo cesto dos irresponsáveis que dirigem embriagados, em alta velocidade e provocam graves acidentes. Não se observa graduação lógica na nova lei formulada com intolerância pelos legisladores e empurrada goela abaixo da população pelo poder executivo. Só restou ao judiciário aplicá-la dentro dos seus rigores.
A criação das Ligas foi abortada pelos mesmos sujeitos que dizem que tudo o que fazem é pelo amor ao esporte. Há também aquele que, além de amar o esporte, se autoentitula competente e experiente. Ainda que pouco tenha a oferecer, mas muito a retirar, aventura-se. Na verdade, porém, tudo o que se quer é o controle dos grandes clubes e da CBF, as menininhas dos olhos de cartolas, administradores, agentes, investidores.
Todos usam a demagogia e defendem o amadorismo dos cartolas contra o falso profissionalismo, como se eles não interferissem no trabalho dos seus contratados. E quando há muita gente interessada no mesmo produto, e este tem potencial para lucro, a disputa não é simples. Aliar-se ao concorrente, antes de tudo, exige ética e moral, artigos em falta no mercado. O que se vê então é uma disputa pública por espaço na mídia e jogo de cena para as torcidas, especialmente as organizadas, as quais eles controlam e financiam, mas temem.
Todas as tentativas já nasceram viciadas e o que deveria significar novos tempos, novos rumos, transparência e respeito ao interesse público, não passaram de imagens, com pessoas, rivalidades e conceitos ultrapassados, que se mostraram danosos ao futebol. Ou o esporte mata seu mal ou morrerá como espetáculo de massa. A segunda hipótese, neste momento, é mais provável.