A indicação do campeoníssimo ex-jogador e ex-técnico Zagallo para o segundo posto na hierarquia da CBF causou surpresa, afinal, os cartolas não costumam entregar o bastão de mão beijada. Pode ser apenas jogo de cena, mas não deixa de representar uma homenagem a quem tanto realizou pelo futebol brasileiro.

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Fez-me recordar da historinha que teria se passado na Idade Média e que envolveu a eleição de um cardeal a papa. Virou até filme italiano – comédia, é claro – com o engraçado ator Nino Manfredi interpretando o cardeal moribundo que exerceu o papado durante quase uma década.

Com a vaga aberta no trono sacro, instalou-se a reunião do Colégio de Cardeais, no Palácio Episcopal do Vaticano, convocada para escolher o novo Bispo de Roma, que se tornaria Papa, mas não houve acordo. Passaram-se dias, semanas, meses e nada de ser aclamado o Pontífice até que alguém teve a ideia de indicar um cardeal que, há meses, se encontrava no leito de morte, em Florença, mesmo não sendo um homem brilhante e exatamente com todos os requisitos para o grande desafio.

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Ele se encontrava legalmente habilitado para ser eleito, porém, como ficaria pouco tempo na elevada função, os cardeais ganhariam tempo para acertar os ponteiros e, afinal, optar por um nome de consenso que pudesse atender a todas as correntes políticas da Santa Igreja.

Uma pequena comissão dirigiu-se ao cardeal adoecido e comunicou-lhe da ascensão. Trêmulo e com voz muito fraca, humildemente o velho cardeal aceitou a honrosa missão.

Bastou os colegas saírem de sua residência para ele dar um salto na cama, lavar o rosto, mandar chamar o barbeiro e caprichar na refeição: foi Papa durante quase dez anos.

Para evitar esse tipo de surpresa, em 1268, foi criado o Conclave, que vem do latim "clave com reclusão", ou seja, reunião com uma chave. Nas eleições papais, os cardeais passaram a ficar trancados e não podiam sair até que um novo Bispo de Roma tivesse sido escolhido.

Os Conclaves são agora realizados na Capela Sistina, com chave, no Palácio do Vaticano.

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Ainda bem que a escolha de Zagallo parece mais simples. Ele será eleito vice-presidente da região Sudeste da CBF, vaga com a ascensão de José Maria Marín à presidência da casa. A indicação foi feita pelo presidente da Federação do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, atual ocupante do trono onde reinou, durante décadas, o indefectível Caixa D’Água.

Zagallo foi grande jogador, ótimo técnico e eficiente supervisor enquanto teve boa saúde, mas não é de se entregar facilmente. Reuniu glórias raras de serem igualadas, tanto como atleta quanto como membro de comissões técnicas que dignificaram a tradição do futebol brasileiro.

Com 80 anos de idade e recuperado de grave doença, Zagallo pode repetir a história daquele cardeal florentino. Vai que dá um treco no presidente José Maria Marín!