A primeira vez que encontrei o major Antonio Couto Pereira foi em 1969, na noite de teste do novo sistema de iluminação do então estádio Belfort Duarte três dias antes de um jogo pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa.
Depois do Ferroviário, em 1967, e do Atlético, em 1968, o Coritiba conquistou o direito de representar o futebol paranaense no torneio que deu origem ao Campeonato Brasileiro.
Conversava ao lado do gramado, em frente à grande arquibancada, com o presidente Evangelino Neves quando se aproximou um baixinho atarracado com jeito de nordestino, mancando de uma perna. Eu já conhecia a história da fratura quando ele, com o jogador Staco e o pai deste, tentavam levantar o placar de madeira que havia sido derrubado por uma tempestade na época da inauguração do estádio, em 1932.
O placar não se sustentou e caiu novamente, daí sobre a perna do presidente Couto Pereira e da cabeça do pai de Staco, que veio a falecer.
Dando o sangue, literalmente, pelo Coritiba, Couto Pereira tornou-se uma lenda no Alto da Glória, pois foi graças a ele que o time fechado da colônia alemã, concorrendo com o Atlético, poderoso e influente com os empresários, políticos e governantes da época, tornou-se uma potência.
Presidente por 16 anos, ele deu novo impulso ao clube chegando a prejudicar-se profissionalmente na carreira de exator federal, por abandonar a coletoria da travessa Marumby e transformar o Coritiba em sua segunda casa.
Homem de dinamismo extraordinário, intensificou a presença social no clube com a organização de concorridas festas e bailes na sede da Rua Ubaldino do Amaral.
A popularização do time veio com a construção do estádio que, além do campo e da arquibancada mista de madeira e cimento, possuía iluminação e quadras de tênis e basquete. Ampliou o quadro social com a instalação do Tiro de Guerra na sede oferecendo aos recrutas inscritos para o serviço militar, acesso livre as dependências esportivas, permanecendo após a graduação como sócios.
Esperto como dirigente de futebol, concorreu em condições de igualdade com o legendário Capitão Maneco Aranha, presidente do Atlético e personagem de prestígio durante a ditadura de Getúlio Vargas por ser irmão do ministro e chanceler Osvaldo Aranha.
Em uma de tantas passagens folclóricas, a dupla Atletiba desejava contratar um jogador do Operário, de Ponta Grossa, que vinha de trem para conversar com os dirigentes na capital. O pessoal do Atlético resolveu antecipar-se e foi recepcionar o jogador na estação ferroviária do Portão. Quando o trem parou, viram o presidente do Coritiba abraçado com o jogador, pois Couto Pereira foi buscá-lo na estação de Palmeira.
No dia do milésimo jogo do Coritiba no estádio com o seu nome, o milésimo justo tributo ao inesquecível Couto Pereira.
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