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Velha tradição bíblica entre as solenidades e rituais da Páscoa, os antigos judeus costumavam escolher um bode preto, carregá-lo com todos os seus pecados e expulsá-lo para o deserto. Era o bode expiatório – uma instituição nacional de limpeza e purificação. Uma forma de zerar os débitos, refazer a aliança com Jeová e garantir a sua condição de povo eleito.

Como se vê do Velho Testamento e pelo testemunho dos profetas da época não era fácil observar os 10 mandamentos. Daí o bode.

O caso brasileiro é diferente, pois de acordo com a crendice popular Deus é brasileiro e navega na mesma arca. Não nos adotou nem nos elegeu, Ele torce por nós por pura simpatia. Se não existe mais time de futebol bobo e muito menos brasileiro bobo, por que Deus ia ser o único? Talvez por isso que o Brasil cresce quando os políticos dormem, afinal, Deus não dorme e sempre nos salva quando estamos à beira do abismo. A invenção do "jeitinho brasileiro" quebra todos os galhos e evita que o país não vá para a cucuia.

Mas se tudo isso acontece há muito tempo, parece teologicamente óbvio que não precisamos de bode preto nenhum. Não temos nada a expiar. Pecado algum. Apesar de todos os escândalos entre administradores públicos, empresários e políticos; das fortunas desviadas em prejuízo da sociedade e das inúmeras obras públicas atrasadas e superfaturadas, muita gente acredita que estamos livres do pecado original e dos 10 mandamentos. Isso é coisa antiga e nunca antes na história deste país se registraram tantas irregularidades na gestão pública.

Por aqui não há diabo nenhum, nem santo algum. É tudo arcanjo. Da melhor cepa. Isto não quer dizer que aqui não se cometem erros nem se pratica o pecado. Mas como os malfeitos demoram para serem descobertos e quando o são levam tempo para serem julgados diante do festival de recursos da nossa legislação, em lugar do bode preto, nós temos o bode branco. Ele não vai para o deserto, mesmo porque não temos deserto. Ele vai para a Papuda ou outros presídios menos famosos. O bode branco, uma instituição brasileira, é afastado da ativa e fica proibido de cometer asneiras, sujeiras, bobagens, roubalheiras, além de todas que já fez. O Brasil não sacrifica seus bodes brancos. Coleciona-os em todos os setores. Na política, na administração, na economia, nas artes e nos esportes. A última eleição para presidente da CBF foi um primor dos cartolas que controlam todas as federações olímpicas, coisa de finório, que, surpreendentemente para alguns, não esta acontecendo com o bode nacional da vez: o deputado André Vargas, do PT.

A igreja teve seus mártires, as nações seus heróis, mas os bodes brancos não precisam esperar a morte para sua consagração: já em vida são transportados para a galeria da esperteza nacional e consagrados como imortais macunaímas.

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