Com a vida facilitada pelos dois principais rivais do Corinthians nas rodadas finais, o Fluminense sa­­grou-se campeão brasileiro ao vencer o Guarani com dificuldade.

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Foi um título merecido para o time que liderou o campeonato na maioria das rodadas, consagrando Muricy Ramalho como técnico te­­tracampeão.

Sirvo-me do estilo e da criatividade do mais ilustre torcedor do Flu­minense, o genial Nelson Rodrigues, para homenagear a tricolagem em festa: "Aí está o grande feito de mi­­nha vida: arranquei o óbvio da obscuridade e da insignificância. Assim como o Fluminense tornou-se o campeão óbvio, eu consagrei o óbvio ululante."

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A Cabra Vadia, a Grã-Fina das na­­rinas de cadáver, o Palhares, o Gravatinha, o Sobrenatural de Al­­meida, todos os personagens do universo rodrigueano estavam presentes no Engenhão.

O profeta já havia anunciado e estava escrito há 40 séculos nas pirâmides do Egito que o Flu seria campeão. Tricolores vivos ou mortos estão em regozijo. Incluo os fantasmas na comemoração, e explico a morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos. Em certos mo­­mentos do futebol, cada equipe arrisca o passado, o presente e o futuro. Precisamos pensar nos títulos já possuídos. Ai do clube que não cultiva santas nostalgias. Com os torcedores de hoje e os fantasmas de velhíssimos triunfos – o Flu voltou ao pódio da vitória.

O que fascina no futebol é o jogo de paixões. Ninguém é lúcido, ninguém é sóbrio. O sentimento clubístico sobe à cabeça na mais generosa embriaguez. E o sujeito diz horrores.

Sem torcedor não há futebol. E existem torcedores de todos os tipos – os fanáticos, os nervosos, os alegres, os chatos, os otimistas, os pessimistas e, óbvio ululante, os supersticiosos.

O símbolo do torcedor tricolor é o abominabilíssimo Sobrenatural de Almeida, com aquele cinismo chocante. Com uma perna mais curta do que a outra ele aproxima-se, mancando, e vai logo dizendo: – Não percebeste a minha influência no placar?

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Carlinhos fez bela jogada no lance do gol do título, a bola desviou em Washington e caiu nos pés de Emer­son para a finalização certeira. O Sheik não deu chance para o azar e a torcida explodiu de contentamento. Emerson saiu de campo com o penacho de um Dragão da Indepen­dência do quadro de Pedro Américo.

Na "belle époque", as mulheres iam para o futebol como se fossem para uma recepção no Itamaraty. Hoje elas são descontraídas e vão ao futebol muito a vontade.

O craque do campeonato foi o argentino Conca. Ele fez de tudo um pouco e com a impressionante regularidade dos muito bons de bola.

Conca melhora de 15 em 15 minutos. O Conca da véspera nunca é o mesmo do dia seguinte.

Confete sempre foi usado nas festas dos torcedores cariocas, mas o Fluminense se destacou pelo Pó de Arroz. A elite e o povo comemoraram juntos o título de campeão.

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