Aquele futebol em que os jogadores suavam a camisa, jogavam com dedicação, de graça ou apenas na esperança de conseguir um bom emprego depois que pendurassem as chuteiras, acabou há muito. Como diria Felipão, isso é do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça.

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Mas o futebol não precisava virar um negócio tão selvagem, que se encontra no limite da ética e da ilegalidade. Para quem ama o esporte e curte uma partida de futebol bem disputada, choca a notícia de que quase a metade das transações realizadas burla a legislação vigente em todos os países. Para os puristas, aos poucos o futebol moderno vai perdendo o encanto.

A nebulosa transferência do brasileiro Neymar para o Barcelona derrubou o presidente do clube espanhol, senhor Sandro Rosell, que andou se associando ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em muitas e grandes negociações. Mas este foi apenas um escândalo, talvez o mais emblemático de uma série que envolve cerca de mil atletas que atuam na Europa e são propriedade de fundos de pensão, empresas e acionistas numa aposta que supera US$ 1,5 bilhão.

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Porém, não precisamos atravessar o Atlântico para constatar a nova e desoladora realidade. Basta observar a quantidade dos chamados "times de dono" que participam de todos os campeonatos estaduais e mesmo das principais divisões nacionais.

Quando dois times entram em campo, não são apenas os torcedores que esperam de seus ídolos uma vitória. Investidores de toda sorte também torcem para que os craques nos quais eles têm dinheiro depositado sejam decisivos em campo. O fenômeno não é novo por aqui e jogadores como Neymar garantiram salários elevados graças à participação de vários sócios no seu passe. Mas não tínhamos noção da disseminação da prática na Europa, sobretudo com a recessão dos países cujos clubes saíram ao mercado oferecendo parcelas de seus jogadores aos investidores para ajudar a pagar os altos salários dos craques e levantar capital.

Um desses fundos, o Doyen Sports Investments, aplicou milhões de euros na aquisição de jogadores e chegou ao Brasil bancando a milionária transferência do atacante Leandro Damião do Inter para o Santos.

O debate do espírito esportivo no futebol – o badalado Fair Play – está perdendo terreno para os interesses financeiros de grupos ou mesmo individualmente de jogadores. Dois atletas americanos, por exemplo, abriram capital e suas ações passaram a ser negociadas na bolsa de valores. O princípio é simples: se o atleta ganha um novo contrato de publicidade, aumento de salário ou conquista título, os acionistas também ganham. Numa aliança entre Wall Street e agentes esportivos, uma empresa começou, no ano passado, a vender ações de atletas e ligar seu desempenho financeiro ao desempenho em campo. O céu é o limite.

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