Cada vez mais a sociedade é tomada pelos clichês, termo francês que designa o chavão muito utilizado tanto em campanhas políticas quanto em discursos de formatura. Mas foi no cinema e no futebol que o mundo dos clichês encontrou lugar de honra, sendo repetido à exaustão.
Alguns clássicos da clichagem cinematográfica entraram para a história da sétima arte, como "Mãos ao alto", "Os nativos estão inquietos" ou "O que é que uma garota como você esta fazendo num lugar como este?". Não há estatísticas mostrando quantas vezes uma frase foi usada pelos roteiristas ao longo dos tempos como "Try to get some sleep now (Tente dormir um pouco agora)". Mas, mesmo sendo difícil aferir tais recordes com um mínimo de rigor, a frase mais frequentemente repetida na tela em todos os tempos foi "Vamos dar o fora daqui".
Acertou quem apostou no personagem de Humphrey Bogart, em Casablanca, quando Rick reencontra Ingrid Bergman pingando azeite de beleza: "Com tantas espeluncas espalhadas pelo mundo inteiro e ela veio parar logo na minha". Sentença tão engraçada quanto a de Mae West estrelando Santa não sou: "Quando sou boa, sou muito boa; mas quando sou má, sou melhor ainda". Ou a sua venenosa filosofada: "Não são os homens em sua vida que contam, mas a vida em seus homens".
Gloria Swanson, em Crepúsculo dos Deuses, quando a aposentada atriz Norma Desmond desabafa: "Eu continuo grande. Os filmes é que ficaram pequenos". Marlene Dietrich emendou em O expresso de Shangai: "Foi preciso mais de um homem para mudar meu nome para Shangai Lily". A atriz de teatro Margo Channing, vivida por Bette Davis em A malvada, como anfitriã de uma festa: "Apertem os cintos que esta noite vai ser de arromba".
Por fim a diabólica criatura das sombras que Orson Welles vive como Harry Lime em O terceiro homem, a quem devemos esta obra-prima de relativismo cínico: "Na Itália, durante 30 anos em que os Bórgia estiveram no poder, houve guerra, terror, violência e assassinatos, mas ainda assim lá surgiram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. A Suíça com toda sua fraternidade e seus 500 anos de democracia e paz, produziu o quê? O relógio cuco".
O futebol brasileiro, bem mais pobre em doses culturais, mas muito criativo, consagrou clichês inesquecíveis como Futebol é uma caixinha de surpresas; Jogo é jogo, treino é treino; Vamos voltar para o segundo tempo e tentar mudar tudo; Futebol é assim mesmo e vamos partir para outra; Defender em sanfona e atacar em leque; Mexer na frente para dar mais velocidade; Se o lateral avançar muito leva bola nas costas; Recuar os médios para evitar a catástrofe; A melhor defesa é o ataque; Não existe mais time bobo; O grupo está fechado; O elenco está focado; e por aí afora.
Bom domingo sem futebol e vamos ao cinema depois de votar.
Dê sua opiniãoO que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Deixe sua opinião