Em uma época em que não se pode mais ficar alheio aos ventos de mudança que sopram em todos os setores, soou estranha a escolha da CBF pelo retorno de Dunga ao comando da seleção. Ao invés de aceitar o projeto da reinvenção, antiga reivindicação da crônica esportiva e, ultimamente, dos jogadores que lideram o movimento Bom Senso FC, os cartolas preferiram empurrar a crise do futebol com a barriga, apostando as fichas na personalidade forte e na capacidade de trabalho do novo selecionador.

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É importante separar as coisas, pois a imprescindível reforma do conceito administrativo é um processo completamente diferente da simples troca do técnico da seleção. Mudar o treinador constitui-se em fato corriqueiro e a própria opção por Dunga parece razoável, especialmente conhecendo os atuais dirigentes da CBF. São homens com poucas ideias e, no caso do presidente Marín, ele apenas cumpre o fim do mandato, preparando o terreno para o sucessor Del Nero que, cá pra nós, é outra raposa felpuda que está longe de ser uma Brastemp em termos de gestão avançada.

Dunga foi escolhido porque já passou por lá, conhece os caminhos e, em última analise, realizou trabalho satisfatório até a eliminação na Copa de 2010 em partida na qual o Brasil cumpriu eficiente primeiro tempo e poderia ter feito o placar em cima da Holanda. Sofreu a virada na etapa final pelas falhas do goleiro Júlio César e o mundo desabou sobre o treinador que, pelo temperamento e falta de habilidade no trato com a mídia, estava bastante desgastado. Não representará surpresa se conseguir recuperar a dignidade da equipe e fazer boa figura na Copa América e Eliminatórias, os próximos desafios, afinal ele é do ramo e futebol possui mecanismos que revertem situações em pouco tempo, pois basicamente depende dos resultados obtidos no campo – a Olimpíada ficará a cargo de Alexandre Gallo.

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Outra coisa completamente diferente e mais profunda é a necessária reinvenção da CBF, o que implicaria na diminuição de poderes das federações estaduais e no fortalecimento dos clubes, com a organização de um calendário nacional mais inteligente e a reestruturação de todos os campeonatos com formatos modernos e, sobretudo, rentáveis.

A impiedosa goleada imposta pela Alemanha, confirmada de forma menos dolorosa dias depois pela Holanda, não pode ser atribuída tão somente aos sortilégios da bola ou ao fortuito nas disputas esportivas. Ela expôs com todas as tintas o anacronismo do nosso repertório administrativo e do superado sistema de jogo, tão criticado durante os últimos Campeonatos Brasileiros pela falta de criatividade dos treinadores e pelo baixo nível técnico da maioria dos jogadores mal formados na base.

O sentimento em favor de mudanças que varre o país certamente inclui o futebol, que se constitui em instrumento relevante da cultura nacional.

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