Sou do tempo em que se falava "imprensa escrita, falada e televisionada" e, para ser sincero, aceito com reservas a palavra "mídia", embora saiba que ela veio para ficar. Ela entrou para o meu vocabulário nas aulas de latim no curso ginasial do Regente Feijó, em Ponta Grossa: singular "medium", plural "media". No inglês virou "mídia" e ninguém mais consegue evitá-la para designar a indústria da informação, ou mediática como se diz.
Foi-se o tempo em que os apresentadores do cerimonial anunciavam as "autoridades civis, militares e eclesiásticas presentes ao evento". Era a mesma época em que o rádio reinava absoluto enquanto a televisão engatinhava no branco e preto com os locutores animando a programação e cumprimentando ardentemente o público: "boa noite ouvintes de casa e do auditório!" De tão poucos que eram, os ouvintes de rádio nos automóveis acabavam esquecidos na saudação do "locutor que vos fala".
"Aviso aos navegantes" foi o serviço que o rádio prestou aos navegadores da costa brasileira antes dos modernos sistemas de comunicação e tornou-se tão famoso quanto o "amigos ouvintes do Brasil", do comentarista paulista Mario Moraes, ou o célebre "abrem-se as cortinas torcida brasileira e começa o grande espetáculo", do inesquecível narrador Fiori Giglioti, da Bandeirantes, que inventou uma infinidade de bordões famosos, tanto quanto o histórico "placar na Suécia...", de Edson Leite nos jogos da Copa de 1958.
Poucos lembram da emocionante narração de Geraldo José de Almeida na primeira Copa transmitida pela televisão para o Brasil, em 1970: "Gerson lança de ponta de bota. Jogada linda, linda, linda!"
"Um instante maestro!" foi a marca registrada pelo polêmico apresentador Flávio Cavalcanti, na Rede Tupi de Televisão, mas nada mais emblemático do que Heron Domingues na Radio Nacional, do Rio de Janeiro: "Aqui fala o repórter Esso, testemunha ocular da história". Raul Longras lançou na Rádio Mundial, do Rio de Janeiro, a narração longa de gol, pois até então ele anunciava o feito gritando "pimba", enquanto Ari Barroso tocava uma gaitinha de boca no momento do gol.
Por aqui, a coluna esportiva mais lida durante décadas foi "Do meu degrau das gerais", de Pedro Stenghel Guimarães, em O Estado do Paraná, seguida de "O Grande Círculo", de Vinicius Coelho, no Diário do Paraná, "Na boca do túnel", de Luis Alfredo Malucelli, em O Estado do Paraná, e "Sueltos", de Albenir Amatuzzi, na Tribuna. Ney Costa empolgou os ouvintes indicando o autor do gol com "Todo mundo está abraçando aquele moço!"; Aírton Cordeiro aconselhava o goleiro vazado: "carimbe, fature e mande o seu ataque cobrar". Lombardi Junior dizia: "estremece o gigante de concreto armado!". E eu animava com o bordão: "É disso que o povo gosta!". Todos nós através das ondas media e curtas da Rádio Clube Paranaense, a histórica Bedois.
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