Sou do tempo em que para ver a seleção brasileira jogar era preciso ir a São Paulo ou, principalmente, ao Rio de Janeiro.

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Ela era bicampeã mundial – mais tarde seria tri – e por isso mesmo tratada com respeito e cortesia, tanto que só jogava no Pacaembu, mais adiante no Morumbi, mas, sobretudo, no Maracanã. Tido como o principal templo do futebol brasileiro, o Maracanã trepidava com as superlotações em dias de jogos dos "canarinhos".

Hoje em dia, lamentavelmente, ela só dá ibope no norte-nordeste, onde as atrações futebolísticas são mais modestas, pois – além de ter fugido dos grandes centros por falta de apelo popular para lotar os estádios –transformou-se em objeto comercial da CBF.

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A seleção tem sido usada nos últimos anos, para não dizer nas últimas duas décadas, como mercadoria de troca de favores entre cartolas ou simplesmente para atender os interesses dos patrocinadores.

A minha geração cultua a seleção, não propriamente por sentimento patriótico, mas por pura admiração. Os motivos são fáceis de explicar: tenho gravado até hoje os sons distorcidos das ondas curtas nas transmissões das emissoras de rádio nos contando as peripécias dos jogadores para a conquista do bicampeonato mundial em 58 e 62.

Na campanha do tri o povo pôde acompanhar pela primeira vez os jogos pela televisão e as imagens do triunfo consagrador ficaram eternamente gravadas na retina de todos.

Bons tempos aqueles em que se respeitava a seleção, como verdadeiro símbolo nacional e não essa aí, tristemente escalada para um jogo sem importância com a Argentina e, mais à frente, em desinteressantes amistosos com a Costa Rica e o México, na tentativa de transformar as vitórias em novo gás para o atarantado técnico Mano Menezes.

Vejam ao ponto que chegamos: o jovem Mário Fernandes, lateral do Grêmio, dispensou a seleção brasileira.

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E tem mais: a seleção passou a ser a vilã dos clubes que fornecem os jogadores e estão em meio à fase mais quente do Campeonato Brasileiro. Em vez de prestigiar o seu maior empreendimento – que é a competição nacional – a CBF coloca-se na contramão e só tem olhos para o faturamento em cima da marca da seleção, tão maltratada exatamente por se tornar mero objeto de troca.

Sem os craques e o glamour do passado, o time nacional sofre as consequências da vulgarização. E não só dela, mas do nosso principal campeonato que, mesmo mexendo com a paixão do torcedor, segue com más arbitragens e as equipes reclamando das sucessivas convocações dos seus principais jogadores.

Apesar das recentes conquistas do tetra e do penta, o crescimento na Copa América e a realização da Copa do Mundo em 2014, a cúpula da CBF corre o sério risco de um dia sair pela porta dos fundos.