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O vexame histórico da seleção desnudou a decadência do futebol brasileiro. De todos os lados surgem opiniões e conceitos a respeito do antigo melhor futebol do mundo que, por falta de melhor organização, maior responsabilidade gerencial, autocrítica dos treinadores e formação falha dos jogadores, apresenta um campeonato deficitário.

A decepcionante média de público nos últimos anos, somada ao baixo nível técnico das equipes, a escassez de bons jogadores e a falência dos principais clubes é o retrato pronto e acabado de um futebol quase sem rumo. Os cartolas estão assustados com o tamanho do problema e pedem urgência na aprovação da lei de refinanciamento das dívidas fiscais dos clubes, que atualmente são superiores a R$ 2,7 bilhões. Vilson Ribeiro de Andrade, porta-voz da classe e presidente do Coritiba, clube que deve R$ 60,7 milhões, argumenta junto ao governo que a situação financeira dos clubes é calamitosa. Mas o que é que eles têm feito na prática para mudar o preocupante panorama?

Vejam, por exemplo, o caso do Flamengo, que é o maior devedor perante a União, algo em torno de impressionantes R$ 390 milhões, mas cuja diretoria continua administrando de forma temerária, tanto que pagará até o final do ano os salários integrais de três técnicos: Jayme de Almeida, Ney Franco e Vanderlei Luxemburgo, que estreará hoje na volta ao comando do time da Gávea.

Para muitos analistas o caos no futebol, refletido com tintas fortes no fracasso da seleção que foi humilhada em casa, tem a ver com o tormentoso momento do país, cuja economia emite sinais de naufrágio, com políticas públicas que não conseguem lidar com o acelerado fenômeno da urbanização nas últimas décadas.

Continuamos prisioneiros de uma agenda que conferia prioridade à reforma agrária e não cuidamos de enfrentar os problemas de transporte público, saneamento, segurança, educação e saúde, típicos dos aglomerados urbanos. Os programas de assentamento rural se tornaram obsoletos pelas mudanças de tecnologias. E nas cidades o tráfico de drogas e armas, vandalismo – tem gente que ainda considera os "black blocs" inocentes – e a falência da segurança pública não decorre da fragilidade da lei penal, mas de uma complexa combinação de impunidade e sistema prisional ultrajante, formador de marginais.

Pensando bem, a crise do futebol é pequena diante desse quadro assustador de um modelo de gestão pública que teima em não reestruturar o sistema ferroviário para o transporte de passageiros e cargas em grande escala, como acontece há mais de um século nos grandes países do primeiro mundo. Perante a magnitude da deficiência na elaboração e construção de um projeto nacional liderado pelo governo federal, o futebol indica que pode reencontrar o rumo desde que os dirigentes assumam as suas responsabilidades.

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