Quarta-feira, noite meio quente, meio fria, dependendo da temperatura ambiente de cada um, ruas relativamente silenciosas e as duas maiores tribos do futebol paranaense agitadas com os seus times em ação.
O primeiro a entrar em campo foi o Atlético, calorosamente apoiado pela sua torcida no conforto da Arena da Baixada. Uma das principais características do torcedor de futebol é a união nos momentos de dificuldade.
Quando o time está por cima, os cartolas se digladiam pelos espaços na mídia e o torcedor fica com aquele ar blasé de superioridade, como se fosse partícipe direto do sucesso nos resultados obtidos.
Quando o time está por baixo, os cartolas, que cometeram equívocos, procuram desaparecer dos noticiários e os oposicionistas de ocasião aproveitam a oportunidade para apresentar propostas e promessas mirabolantes. Só o torcedor é autêntico.
Da mesma forma que se torna "mascarado" na fase boa, ele se torna fiel e irredutível apoiador na fase ruim. Pelo menos com os atleticanos funciona assim, tanto que mesmo a equipe figurando entre os últimos colocados, perfila entre os melhores do campeonato em público e renda.
O jogo começou e o Furacão abriu a contagem. Salva de fogos a hora e a época descartavam a hipótese de festa junina. Depois de um breve intervalo, daí com buzinas de carros pelas ruas com os coxas festejando o gol de empate do Cruzeiro. Final de jogo, vitória atleticana com foguetório, gritos e o ensaio de buzinação na saída do estádio.
Começa a partida do Coritiba e tão logo o Santos marcou o primeiro gol, buzinas e gritos, daí com os atleticanos comemorando o sofrimento do arquirrival.
A exibição de ferrenho clubismo não é exclusividade de ninguém. Acontece com frequência em todas as paragens, tanto que o Boca Juniors não conseguiu disfarçar o escárnio em cima do rebaixamento do River Plate, como os milionários envolvidos no confronto entre Barcelona e Real Madrid saíram no braço depois da última decisão entre eles, também na quarta-feira.
O Coxa empatou, sofreu, correu, lutou e afinal venceu heroicamente, levando a sua fanática torcida a uma festança pela cidade, apesar da hora avançada.
Ânimo é coisa boa significa alma, espírito, gênio, índole, vontade. Tão parecida, a animosidade é o inverso aversão, má vontade, rancor. O futebol combina ingredientes nominalmente afins, mas tão conflitantes, ânimo e animosidade, garra e ressentimento, convertendo-se num fascinante e diabólico espelho de uma vocação tribal, incapacidade de convívio entre diferenças.
As ciências sociais explicam muita coisa, mas não resolvem nada. As personalidades deveriam ser estabelecidas pelo que de melhor tem o ser humano e não pelo pior.
O homem, através das tribos do futebol, possui a incrível capacidade de embaralhar tudo em nome do amor e do ódio.