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Deliciosa história nos tempos de glória do jornal Diário Carioca conta que o redator-chefe, J.E. de Macedo Soares viu-se em dificuldades para demonstrar a justeza de uma tese. Segundo a qual há pessoas inteligentíssimas para determinadas coisas, mas perfeitamente estúpidas para outras. Resolveu, então, dar um exemplo prático, tirado da sua experiência pessoal.

Contou que estava uma tarde no restaurante da Brahma na desaparecida Galeria Cruzeiro, no centro do Rio de Janeiro, quando viu entrar o grande jurista Clóvis Bevilacqua, acompanhado da família, e ir sentar-se numa mesa discreta, a uma certa distância da sua.

Bevilacqua chamou o garçom, fez o pedido para si e para os seus, mas, logo depois de atendido, pareceu irritar-se, a ponto de discutir com o servidor e repreendê-lo severamente.

Macedo Soares, que assistia a tudo, ficou a imaginar o que poderia ter feito perder as estribeiras um homem sábio e simples como o eminente doutrinador. Voltando no dia seguinte ao local, o jornalista chamou o garçom, seu conhecido de vários anos, e dele ouviu a seguinte explicação: Bevilacqua pedia sempre laranjada e gostava de tomá-la usando aqueles canudinhos de palha, antecessores dos atuais da era do plástico.

Naquela tarde, entretanto, ele não havia conseguido chupar a laranjada através dos canudos e se irritara muito quando o garçom, respeitosamente, tentara explicar-lhe que os ditos canudos não estavam entupidos; apenas, o mestre havia se esquecido de tirá-los do invólucro de papel fino em que vinham adicionados.

“Vejam vocês”, concluiu Macedo Soares, triunfante, “Clóvis Bevilacqua, um gênio em matéria de Direito Civil, mas burríssimo para tomar laranjada!”.

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A história é antiga, mas a tese parece vir a calhar nestes dias de grande turbulência na vida nacional.

A sociedade, estarrecida, assiste a um estranho embate de espertezas entre hábeis demagogos.

Há entre eles um pouco de tudo: pessoas capacitadas, porém com caráter oscilante; líderes sindicais e de movimentos sociais rústicos e um tanto chucros; empresários titulares de empresas portentosas envolvidos em corrupção; veteranas raposas da política acuadas e até uma encabulada Presidente da República que se perdeu no segundo mandato.

No mundo do futebol observa-se o mesmo panorama sombrio. Poucos levam a sério os dirigentes da CBF e das federações, que se beneficiam dos clubes oferecendo-lhes em troca campeonatos estaduais deficitários e um calendário esportivo antiprofissional.

Como um deserto de homens e ideias, o futebol brasileiro mergulhou em profunda crise, tanto na parte administrativa como técnica.

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