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Essa paradinha, espécie de pré-temporada, faz um bem danado. Dá para variar o cardápio, meditar, desintoxicar, ler, tomar o que tem de direito, refletir, enfim, quebrar a rotina. Cada um espraiando a seu modo. Tudo é válido para voltar renovado. É uma forma, digamos, de assepsia mental.

Transformar é sempre válido. Enfim, como dizia o excêntrico Tim Maia, vale o que quiser, só não vale dançar homem com homem e mulher com mulher... Ah, também não pode virar-casaca. Torcedor não muda de time sob hipótese alguma. A paixão por essa coisa inexplicável que é torcer pelo clube do seu coração. Eterniza. Torcer é um ato de fé ilimitado. Está acima da razão, esta sim, limitada.

A graça do futebol está também no encanto e no desencanto que provoca. Sejam quais forem os adversários, uma partida pode virar pelada ou então se tornar um jogaço. Assim é a vida, com altos e baixos, sofrimentos e alegrias, choros e risos. Faz parte. Sabemos disso e não administramos as emoções. Daí a irritação, o protesto e a violência.

O futebol espanhol vive hoje no Jardim do Éden. Barcelona e Real parecem dois anjos imaculados, executando suaves melodias com suas harpas sagradas. É claro que ninguém deseja arder no mármore do inferno, mas também seria uma chatice ouvir a harpa angelical, deitado numa rede e comendo morangos frescos todos os dias.

Sei que não é fácil acabar o ano assistindo o glamoroso Corinthians e Chelsea, e recomeçar um mês e pouco depois com os regionais brasileiros. No fundo, porém, tudo não passa de mera fantasia. O luxo de um cassino noturno, com luzes, bebidas e sorrisos escancarados, é a mesma da casa de jogos que na manhã seguinte cheira nicotina num vazio sepulcral. Tudo é uma grande ilusão dependendo do nosso imagético.

O campeonato regional começa amanhã. Não haverá jogo na Quarta de Cinzas e os cartolas aceitam pelo menos discutir o local dos clássicos com coerência: o Alto da Glória. Soube que criança não vai pagar ingresso nos jogos do Paraná. Isso tudo é ótimo. Lembro de Abílio Ribeiro, ex-presidente do Atlético, distribuindo carteirinhas para a gurizada entrar de graça na Baixada. Íamos a todos os jogos do Rubro-Negro, independentemente da paixão clubística de cada um. Era uma delícia, por exemplo, assistir Atlético x Monte Alegre, dois times recheados de craques, num domingo pela manhã. Aryon Cornelsen também criou o "Sócio Mirim do Coritiba". Criança não deve pagar ingresso para assistir a jogo e o Tricolor acertou na mosca.

Acho que a pausa de fim de ano fez bem a todos – imprensa, atletas, dirigentes, árbitros e torcedores. É bom voltar ao futebol doméstico sem ranço, sem exigências, sem grandes expectativas e com paciência crítica. Pelo menos assim espero. Mas não garanto.

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